quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Eu não consigo apagar os textos que fiz para você




Eu não apaguei os textos que fiz para você. Talvez eu saiba separar as coisas, não sei. Eu consigo sofrer ao mesmo tempo em que admiro um texto bem escrito. Eu não apaguei as fotos que postei de nós dois. Primeiro porque são muitas e eu sempre tive preguiça dessas coisas e segundo porque eu não quero te apagar da minha memória. Não, eu não te amo mais, mas não vou ignorar que já senti isso um dia e que, enquanto durou, me fez bem. Fingir que nada do que vivemos aconteceu seria hipocrisia e eu não costumo ser uma pessoa hipócrita. Eu não te amo mais, é verdade, mas tenho um carinho imenso por tudo o que nós vivemos. Além disso, eu tenho preguiça de excluir nossas fotos e simplesmente não consigo apagar os textos que escrevi pensando em você.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Querendo ou não




Querendo ou não,
sou eu quem conhece você,
quem decorou todas as suas pintas
com meus dedos;
Quem desenhou seus músculos
com a minha língua.

Querendo ou não,
sou eu quem entende você,
suas angústias.
Fui eu quem te consolou
quando a tristeza nublou seu rosto.

Você gostando disso ou não,
sou eu quem tocou seu coração,
quem leu seus versos de amor.
Sou eu a destinatária das suas paixões.

Querendo ou não,
sou eu quem conhece seu corpo,
quem te arranca suspiros,
quem conhece o gosto do seu gozo
e o som dos seus gemidos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Para 2019




Em momentos como esse eu percebo que não preciso de muito para viver. Nesses momentos em que estamos num lugar só nosso, uma espécie de paraíso não exclusivo, mas que pouquíssimas pessoas podem entrar. É como uma fortaleza. Por mais que algumas pessoas insistam em atrapalhar, nossas fundações são fortes, nossos muros são resistentes.

São momentos que eu gosto de aproveitar. Gosto de sentir a brisa de uma conversa no rosto, o cheiro do afeto que compartilhamos, gosto do gosto que a união da nossa família tem, adoro o som das risadas e a graça das piadas sem graça.

Não é perfeito, longe disso, vez ou outra os trovões de uma briga rugem e as vozes se alteram. Quem fica de fora acha até que é loucura. E talvez seja mesmo. Porque logo a tempestade passa. Apesar de tudo, raiva não é algo que conseguimos sustentar por muito tempo quando é de um de nós contra outro.

Em momentos como esse, em que as divagações de fim de ano vêm antes do tempo, eu percebo que todo o resto não é tão importante quanto o que temos aqui. Nosso pequeno paraíso, aquilo que chamamos de lar, mas que não é necessariamente nenhum lugar específico. É cada um de nós, unidos mesmo separados, para onde sabemos que não importa se estamos em países diferentes, sempre poderemos voltar.

Num ano em que infinitas lágrimas foram derramadas pelos mais variados motivos, meu único desejo para 2019 é que esse paraíso que construímos continue firme.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Quem é que disse que você não pode voar?




Hey, me diz uma coisa: quem é que disse que você não pode voar? Preste atenção, você pode sonhar alto, pode alcançar, e quando estiver lá em cima vai enxergar tudo o que eles nunca viram. É só acreditar em si mesmo e não deixar ninguém dizer que você não é capaz. Se sua mente quiser, pode tirar seus pés do chão.

No meio de todo esse ódio, você pode ser a cólica que segura o megafone nas ruas e abafa as vozes odiosas do microfone. Enquanto eles pregam o ódio, você pode espalhar o amor. Acredite em mim: você é uma dessas pessoas únicas, extraordinárias. A cosmopolita mais insólita que eu conheço, a pessoa que me ensina mais coisas nesse mundo, uma das poucas que eu escuto sem me entediar.

E esse seu fogo que arde lento é só o início, apenas um capítulo da história maravilhosa que você pode contar. Você não é o epílogo, é só o início, acredite em mim. Assim como eu tenho fé em você.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Você parece não entender




Meu tempo não é igual ao seu,
nunca foi,
nem vai ser.
Mas você parece não entender,
parece não ver.

Você não sabe,
mas eu estou me desfazendo
aos poucos,
bem na sua frente.

Mas seus olhos estão fechados,
seu coração parece estar trancado.
Você apenas se vira
e finge dormir
enquanto eu tento me levantar;
e não lembrar.

Você pode não perceber,
mas meu tempo é diferente do seu.
Enquanto você está pronto para recomeçar,
eu não consigo esquecer,
embora esteja pronta para perdoar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Eu tenho visitado suas fotos




Eu tenho visitado suas fotos, nossas memórias, nosso amor que não é mais amor e se transformou em algo menos duradouro e mais utópico. Eu tenho visto seus sorrisos e caretas, não vou mentir, eu tenho me lembrado muito de você. Até demais, na verdade. Eu tenho te encontrado em sonhos e meu coração sente que não foi o bastante, que tudo terminou da forma errada. Depois de todo esse tempo, minha cabeça diz que foi melhor assim, mas minha intuição insiste que não teve fim. Ainda.

Eu tenho me lembrado de você e confesso que não faço nada para tentar evitar. Prefiro deixar a correnteza me levar até que eu morra afogada em você. Eu invoco suas lembranças numa forma de finalmente ter uma overdose de tudo o que você foi e então, quem sabe, te esquecer de vez.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Você não me desce.



Você não me desce.
Não consigo força-lo a passar pela minha garganta.
Eu só consigo te regurgitar.

Você não me desce,
pelo contrário:
me sufoca.
Se acumula no meu esôfago
e fica entalado,
como se fosse bílis.
Corrói-me por dentro
e deixa seu gosto azedo
na minha boca.

Você não desce.
Nem com água,
nem com leite,
muito menos seco.
Você
simplesmente
não me desce.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Os meus melhores textos são sobre você




Os meus melhores textos eu escrevi para você. Isso é ridículo, eu sei, mas a verdade nem sempre vem com roupas elegantes; muitas vezes ela é cruel e trágica e, neste caso em específico, ela é brega e deprimente.

Os melhores dias da minha vida eu vivi com você. Ou eu estava ao seu lado ou conversando até de madrugada. Você sempre contou as melhores piadas e só o timbre da sua voz foi capaz de fazer eu me arrepiar.

Você também tem os olhos mais bonitos que eu já vi e o abraço mais gostoso que eu já senti. Você foi o meu melhor consolo, o ombro mais macio. Não me espanta nenhum pouco que os meus desenhos mais bonitos foram do seu rosto.

E agora os meus melhores textos continuam sendo sobre você, mas o tom de alegria não existe mais, assim como a sua companhia. Estão lotados de você, como sempre, mas, dessa vez, eles exalam o aroma da sua ausência.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

"É, eu sei..."




- Eu sei que não deveria e odeio isso. Eu te amo. Merda, eu te amo e só me dou conta disso agora, quando você está dormindo e eu estou destruída. É melhor eu ir embora antes que seus olhos se abram e me mostrem um universo inteiro que eu nunca poderei ter. Não, pelo amor de deus, não me olhe desse jeito, eu não quero mais derreter.

Os olhos verdes se abriram antes que ela fosse embora. Ambos se fitaram. Ela, com tanto amor que até doía e ele com uma névoa cinzenta de sono ainda.

- Vem aqui. – Ele esticou um braço e acariciou a cintura dela, nua. O neon lá fora piscava, banhando o quarto de vermelho para depois se apagar e deixar tudo escuro de novo. Vermelho. Breu. Vermelho. Breu. – Será que eles já entregam o café da manhã?

- Ainda nem amanheceu. – Ao contrário do que disse a si mesma que ia fazer, ela se aconchegou mais nele e encostou o nariz em seu peito. Os pelos faziam cócegas, mas a sensação era gostosa. – O que acha de tomar café lá embaixo.
Todos os músculos dele se retesaram enquanto ele respirava fundo. Em momentos como aquele, em que ele era duro feito pedra, ela sentia vontade de chorar.

- Não é bom arriscar. Podemos ser vistos.

- É, eu sei... – Passaram alguns minutos em silêncio antes que ela perguntasse: - Você vai embora depois do café da manhã?

- Você sabe que sim. – E ele sempre fazia isso. Sempre amassava seu coração em suas próprias mãos. Ela não sabia quanto mais aguentaria, mas ainda estava ali. Ao contrário do que tinha dito, ela não foi embora enquanto ele estava dormindo. Na verdade, tinha quase certeza de que ele faria isso.

Na verdade, ele já tinha feito. Na primeira e na terceira noite. Depois eles tiveram uma conversa franca e decidiram pelo menos se despedirem com mais uma transa pela manhã. A transa nem sempre acontecia, mas a despedida, sim. E era o que mais a machucava. Todas as vezes que ele vestia as roupas, se inclinava e lhe dava um beijo na testa antes de dizer “até logo” era como se um pedaço da sua alma fosse embora com ele. E quando ele voltava, não a trazia de volta.

- É... Eu sei. – Ela se levantou e pegou algumas roupas no chão do quarto, antes de entrar no banheiro e se trancar lá. Ela queria chorar, mas as lágrimas não apareceram dessa vez. Estava seca e se sentia como tal. A sensação era a de ser uma ameixa seca, que foi perdendo tudo o que tinha por dentro ao longo do tempo.

Algum tempo se passou e ele não bateu na porta ou chamou seu nome. Ela poderia apostar sua vida que ele tinha ido embora sem se despedir dessa vez. Depois de se vestir, abriu a porta do banheiro e teria morrido se a aposta tivesse acontecido de verdade.

Ele estava sentado na cama, já vestido, olhando para a tela do celular. Quando ouviu o barulho da maçaneta, olhou-a e contemplou sua beleza por alguns segundos. Deus... Ele se arrependia de poucas coisas, mas se arrependia amargamente de não tê-la conhecido antes de se casar com a megera da sua esposa.

- Pensei que já tivesse ido. – Por falta de outra coisa que dizer, disse justamente o que pensava.

- Eu prometi que sempre me despediria, lembra? – Ele se levantou e foi até ela, as mãos dos lados do seu rosto, os lábios macios contra a sua boca. A despedida às vezes tinha o gosto doce. – Alguma vez eu deixei de cumprir alguma promessa?

Ela queria dizer que sim, mas ele estava certo. Nunca deixou de cumprir nenhuma promessa. E o que ele não podia fazer, não prometia.

- Não é esse o problema.

- Então qual é?

- Nada é só... – Ela se afastou e ele respirou fundo, sentindo tanto medo que a garganta ficou fechada por uns segundos. – Você precisa ir. Precisa voltar para a sua família. – Para ela. Precisa fingir que não vem me encontrar uma vez na semana, que não apaga as mensagens do celular todas as manhãs, que não muda a senha de todas as redes sociais uma vez por semana.

- O que foi? – Ele não queria perguntar, não queria saber, mas ela precisava dizer. E ele sabia disso, já a conhecia tempo o suficiente para entender quando as barreiras que ela colocava entre os dois estavam prestes a desmoronar.

- É TPM. Só isso. Você vai...

- Não é. – Ele se aproximou de novo e a abraçou. E continuou abraçando mesmo quando ela tentou empurrá-lo para longe.

As lágrimas não caíram. Talvez tenha secado de vez.

- Me diz. – Ele pediu, o rosto escondido nos cabelos bagunçados dela.

- Você não me promete o que eu quero que prometa.

De novo ele ficou rígido, como uma pedra de mármore, só que com um cheiro delicioso.

- Eu não posso. Você sabe que eu não posso. – Ele levantou seu rosto para olhar em seus olhos. – Eu te amo, eu juro. – Ele sempre jurava. – Mas eu não posso prometer isso. Você sabe que não.

- Eu sei.

Ela não sabia.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Café morno e água fria




Sobrevivendo de café morno e fraco,
assim como eu me sinto
Morna,
fraca
e ferida.

Pisando em vidro quebrado
Estilhaços da minha alma partida
Pedaços afiados
De palavras não ditas
De sonhos perdidos
Mantidos
Por café morno
E água fria.

Os cortes são superficiais
Mas cospem sangue quente
Ardem como o inferno
Entorpecem minha mente.

Os furos parecem crateras
Estão cheios de pus
Contaminados com sua saliva
Precisam ser limpos com gase
E lágrimas de agonia