Guardanapos Rasgados
(Inspirado
na música “Você vai lembrar de mim” da banda Nenhum de Nós)
Escrevendo
poesias em guardanapos, analisando os passos de todos os que andam ao meu
redor. É patética a minha posição, à margem de tudo, apenas um observador solitário
que já rasgou inúmeros guardanapos por simplesmente não serem o poema genial
que eu tanto quis escrever.
Poema
esse que nunca vai existir. Não quando a minha melhor rima está fazendo um
discurso dizendo o quanto está feliz por se casar com outro. De véu, grinalda,
diamantes e rubis, ela parece uma deusa. Uma deusa que nunca será minha.
Não
que já não tenha sido. Não que meus lábios nunca tenham tocado os dela. Não que
eles ainda não sintam vontade de tocá-los novamente. Mas o último beijo foi O beijo.
O beijo que marcou o nosso fim. Não são muitos os beijos que têm tamanha
importância, acreditem. Mesmo que ele tenha acontecido por um pedido meu e que
os olhos dela tenham ficado abertos e entediados o tempo inteiro, ainda assim,
foi o beijo de despedida. Daqueles que a gente dá uma vez só na vida.
Sua
voz aveludada e embargada ainda distribui agradecimentos emotivos a todos os
que se dignaram a participar da festa. O que eu tenho certeza que todos pensam
é que essa é, na verdade, a segunda festa de casamento dela. A primeira não
terminou nunca. Na verdade, nem começou, já que a deusa vestida de branco que
chora de emoção hoje disse “não” ao invés de “sim” e escolheu outro homem ao
invés de mim. Como se não bastasse ser largado no altar, o outro homem é o meu
pai.
Como
fui de noivo a filho do noivo é uma incógnita que eu não sei se quero mesmo
resolver. Superar o golpe baixo fornecido pelo meu próprio pai até que foi
fácil. O difícil é aguentar os olhares de piedade que cada convidado me lança
ao passar pela minha mesa e olhar todos os pedaços de guardanapo rasgado
espalhados ao meu redor. Devem acreditar que eu me transformei num lunático
depressivo que rasga guardanapos rabiscados com qualquer coisa sem sentido. O
que não é uma completa mentira, por sinal.
Mas
tudo bem. Não vou insistir para que ela deixe de amar o meu pai e volte para
mim, para o momento em que íamos nos casar. Por mais perto que nós tenhamos
chegado do “passo final”, não vou me revoltar e sair matando todas as pessoas
que sentem pena de mim. Não. Tudo bem se não deu certo. De verdade. A gente
sobrevive à tristeza e segue em frente. Simples não é. Mas é necessário.
O
estranho é que já gastei três guardanapos só com esse texto. A poesia não saiu,
obviamente. Agora eu tenho que ir porque alguém teve a infeliz ideia de que eu
deveria cantar no casamento do meu pai com a minha ex-noiva e é a hora do
pseudo cantor aqui dar o ar da graça.
--
Luiz se levantou e seguiu até
o palco onde uma típica banda de casamento esperava com a partitura da música
em mãos. Olhou o mar de gente à sua frente antes de fechar os olhos e começar a
cantar:
- Quando eu te vejo, espero
teu beijo...
Eu gostei e achei interessante, e isto é literatura que pode e deve ser divulgada.
ResponderExcluirNaaah, tudo é literatura. Se é boa ou ruim, depende de quem lê (ou não lê), nunca de quem escreve. <3
ExcluirAdorei, me emocionei.
ResponderExcluirganhou mais uma leitora fiel.
grande abraço e sucesso.;
https://crisedos30eu.blogspot.com.br
Muito obrigada por ler e fico feliz que tenha gostado. <3 E seja bem vinda!!
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