Lunática
Sou
fria, intocável. Sou uma utopia. Sou um troféu que gostam de exibir na vitrine
dos astros mais desejados. “Olhe! Eu já fui até ela, consegui tocá-la!” Tenho a
pele pálida como a de um vampiro e sou brilhante como o que se deixa queimar ao
sol por dias a fio. Não sou a maior, nem sequer sou estrela, mas posso ficar
tão
cheia de orgulho e arrogância quanto qualquer outra.
Também
posso ser o exato meio termo, como alguém que é metade e anseia crescer. E
nessa crescente ousadia de ser, um lado se esconde para que ninguém seja capaz
de ver a parte mais escura que forma minhas profundezas pagãs.
Algumas
vezes, a menor parte de mim ganha luz e se esquece de que minha maior metade
não se importa em ser notada. Estrelas demais transitam ao meu redor e diversas
nuvens aparecem para ofuscar meu brilho. É nessas noites em que eu me contento
em só olhar, sem ficar em evidência. Eu mostro apenas uma pequena parte de tudo
o que eu sou, me faço personagem secundária, mera telespectadora.
E
então, quando coisas demais invadem minha mente e transformam a noite em meu
pior momento, quando os astros do meu mundo não levitam à minha volta e seguem
suas próprias órbitas, quando todos esquecem que eu existo e eu mesma me apago,
para ceder a outros caprichos, é quando tudo fica mais escuro e se torna
difícil de acreditar que o sol nascerá. Eu desapareço porque não quero
que me vejam em minha forma menor. É quando eu recuo. E, se eu me escondo, é
para retirar forças guardadas nas mais profundas cavernas e poder, novamente,
na semana seguinte, brilhar.
Porque,
assim como a lua, eu me divido em fases, espero uma semana e me faço novamente
inteira.
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