Lunática

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Lunática



Sou fria, intocável. Sou uma utopia. Sou um troféu que gostam de exibir na vitrine dos astros mais desejados. “Olhe! Eu já fui até ela, consegui tocá-la!” Tenho a pele pálida como a de um vampiro e sou brilhante como o que se deixa queimar ao sol por dias a fio. Não sou a maior, nem sequer sou estrela, mas posso ficar
tão cheia de orgulho e arrogância quanto qualquer outra.

Também posso ser o exato meio termo, como alguém que é metade e anseia crescer. E nessa crescente ousadia de ser, um lado se esconde para que ninguém seja capaz de ver a parte mais escura que forma minhas profundezas pagãs.

Algumas vezes, a menor parte de mim ganha luz e se esquece de que minha maior metade não se importa em ser notada. Estrelas demais transitam ao meu redor e diversas nuvens aparecem para ofuscar meu brilho. É nessas noites em que eu me contento em só olhar, sem ficar em evidência. Eu mostro apenas uma pequena parte de tudo o que eu sou, me faço personagem secundária, mera telespectadora.

E então, quando coisas demais invadem minha mente e transformam a noite em meu pior momento, quando os astros do meu mundo não levitam à minha volta e seguem suas próprias órbitas, quando todos esquecem que eu existo e eu mesma me apago, para ceder a outros caprichos, é quando tudo fica mais escuro e se torna difícil de acreditar que o sol nascerá.  Eu desapareço porque não quero que me vejam em minha forma menor. É quando eu recuo. E, se eu me escondo, é para retirar forças guardadas nas mais profundas cavernas e poder, novamente, na semana seguinte, brilhar.


Porque, assim como a lua, eu me divido em fases, espero uma semana e me faço novamente inteira.

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