Como um geminiano salva uma vida
Inspirado
na música “Amianto” da banda Supercombo
É...
Então, vou falar tudo de uma vez porque é mais fácil. E rápido. E se você não
entender agora, vai entender depois. Ou em outra vida, não sei... Talvez nunca
entenda, mas saiba que meus pensamentos fazem sentido.
Seguinte:
eu nem te conheço. Mas amigos meus são também seus amigos e eles estão
preocupados com o ser que está sentado na beira dessa sacada, querendo pular.
Então, pelo bem deles, vim aqui pra gente conversar um pouco. Tomar um café e,
quem sabe, eu possa te convencer que aí é alto demais pra você se jogar. Talvez
eu não consiga, talvez minhas palavras sejam inúteis e você vá se jogar de
qualquer jeito. Mas não custa nada tentar.
Sabe,
a vida não é o monte de merda que você pensa que é. Ou talvez seja, mas não ao
ponto de valer à pena o suicídio. Ok, seus familiares não te dão todo o carinho
necessário e as pessoas da sua escola acham que você é um tipo raro de
alienígena. E daí? Dorme que passa. Manda todo mundo ir à merda e segue
com a sua própria vida. Sem se importar com o que os outros pensam ou com o pai
que sumiu no mundo quando você nasceu. Coisas boas acontecem o tempo inteiro e
é só uma infeliz coincidência que nenhuma aconteceu com você. Ou sua mãe te deu
banho de azar... Vai saber.
Mas,
voltando ao assunto, pensa em como as poucas pessoas que te amam vão ficar
quando souberem que você pulou do vigésimo andar e explodiu seu cérebro contra
o asfalto. Esse espetáculo de horror vale à pena? Acredito que não.
Porque, mesmo que você acredite que, neste momento, esteja sozinha, eu acredito
que alguém está ao seu lado. Ou vai ficar. Daqui uns dois, cinco, vinte,
oitenta anos.
Alguém
lá fora vai ver sua beleza do mesmo jeito que seus poucos amigos enxergam. Vai
ser bem difícil achar alguém que goste de você como você é, mas nada é impossível
neste mundo, entende? Por que não pagar para ver? Mesmo que você morra sozinha
e isolada, mesmo que fique pra titia e vire uma daquelas pessoas amargas. O
máximo que pode acontecer é ter uma existência infeliz ou conformada com a
própria solidão. E, talvez, você seja feliz.
Ou
não. Ninguém fica imune aos canalhas que a vida traz e, convenhamos, a chance
de você encontrar um filho da puta para ser pai dos seus filhos é muito grande.
Você tem que pisar em cada pedra de leve, testando o terreno, para só então
fincar o pé. Com cuidado, muito cuidado. Qualquer passo em falso pode ser
fatal.
E
tenha em mente que ficar com o coração partido é inevitável. As pessoas são
cruéis, elas vão te fazer sofrer e você vai ser burra o suficiente para sofrer.
Na maior parte do tempo você nem vai entender o motivo das lágrimas, mas vai
saber que dói e que seria melhor não sentir.
Como
agora, que você quer pular dessa sacada para acabar com a tortura. Uma atitude
corajosa de covardia, se é que isso faz sentido. Você é corajosa por desistir
de tudo e covarde por não querer enfrentar a selva lá fora, entende? Acho que
não. Você ainda é nova demais para me entender. E para brincar de morrer, mas
cada um sabe o que é capaz de aguentar. Ou deveria saber.
Se
uma queda de vinte andares parece ser promissora, vai fundo. Mas, antes, tenha
certeza. É isso mesmo o que você quer? E, se não for pular, você tem certeza de
que vai aguentar o tranco de viver nesse mundo cruel? Vai ser forte o
suficiente pra lutar bravamente pelo que quer? Vai conseguir aceitar a própria
fraqueza de ser humana e se reconhecer forte justamente por essa condição? Você
está disposta a enfrentar todos os olhares tortos, as condenações, todos os
juízes que vão querer te prender dentro de si mesma?
Vai
entender a natureza contraditória e hipócrita do ser humano e, mais do que
isso, vai aceitar que todos são cruéis, inclusive você? Vai viver conformada
que ninguém nunca será capaz de mudar o mundo porque ele é podre demais para
ser salvo? Vai ser capaz de conviver com a sua própria consciência quando
aceitar que nunca vai cansar de tentar mudar as outras pessoas?
Ótimo.
Porque eu não. Quer saber de uma coisa? Sai da sacada. É a minha vez de morrer.
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