Durante um passeio numa noite
de sábado, eu a vi. Não estava planejado ou decidido. Só sei que avistei a
menina do vestido branco pela primeira vez e me apaixonei. Com todo o esplendor
que guiava meus doze anos de idade, fiz mil e um planos para encontrá-la
novamente e ter um futuro promissor com a garota que seria mãe dos meus filhos
um dia.
Tinha mais ou menos a mesma
idade que eu e estava no meio de um grupo de amigas; algumas mais velhas, mas a
maioria parecia também ter doze, treze anos. Sorria e brincava com uma
graciosidade que havia me encantado. Desejei ser mais velho e ter mais coragem
de ir conversar com ela; pensei até em beber um pouco da cerveja do meu pai
para me sentir mais confiante.
Ela dançava e rodopiava como
uma perfeita bailarina. Meio trôpega, é verdade, mas linda. Maravilhosamente
linda. As pernas longas e esbeltas expostas, o sorriso meio torpe, o semblante
quase sereno e o decote que mostrava o corpo ainda não completamente formado
haviam me conquistado completamente.
Mas foi só quando eu me
aproximei mais e pude ver seu rosto mais de perto que eu me dei conta de como
era me apaixonar pela primeira vez. O brilho em seus olhos era sonhador,
melancólico, absurdamente distante. Era como se ela estivesse em um mundo
completamente diferente, alheia a tudo o que a cercasse. Era como se seu olhar
tristonho abrigasse um mar de lágrimas que me chamava para mergulhar no seu
interior.
Enquanto eu observava a cena,
esperando meu pai trocar o pneu do carro, alguns veículos pararam na esquina
onde o pequeno grupo estava conversando. Para cada um dos veículos que
chegavam, uma das amigas da minha mais nova e primeira amada se debruçava na
janela e, algum tempo depois, entrava e acenava para as outras uma despedida
quase tristonha.
Até que sobraram apenas duas
meninas na calçada suja. A menina do vestido branco e uma outra, na qual eu só
reparei quando elas se abraçaram para se protegerem do frio. Ficaram
encolhidas, juntas, até que veio um homem e falou algo que fez com que se
separassem e começassem a andar de um lado ao outro rebolando mais que o
necessário e fingindo ignorar o frio que fazia seus músculos estremecerem.
Mais próximo de onde eu
estava, meu pai acabou de trocar o pneu e me chamou para ir embora. Relutante,
entrei novamente no carro e fui virando o pescoço cada vez mais para conseguir
observá-la. Antes que ela sumisse completamente da minha vista, mais um carro
parou na esquina e a garota do vestido branco sumiu dentro de uma BMW com vidro
fumê. Na minha mente infantil, era o pai dela que havia chegado para levá-la
para casa depois de um passeio com as amigas.
Paramos num sinal de
trânsito e o BMW parou ao lado. Da janela pela qual eu olhava, a luz batia
diretamente no vidro fumê fazendo com que eu pudesse ver seus olhos maquiados
deixarem cair duas pesadas lágrimas. E então o sinal ficou verde e eu nunca
mais a vi. Nem naquela esquina e nem em nenhuma outra.
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Achando incrível seus textos. Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigada!!
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