A menina do vestido branco

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A menina do vestido branco




Durante um passeio numa noite de sábado, eu a vi. Não estava planejado ou decidido. Só sei que avistei a menina do vestido branco pela primeira vez e me apaixonei. Com todo o esplendor que guiava meus doze anos de idade, fiz mil e um planos para encontrá-la novamente e ter um futuro promissor com a garota que seria mãe dos meus filhos um dia.

Tinha mais ou menos a mesma idade que eu e estava no meio de um grupo de amigas; algumas mais velhas, mas a maioria parecia também ter doze, treze anos. Sorria e brincava com uma graciosidade que havia me encantado. Desejei ser mais velho e ter mais coragem de ir conversar com ela; pensei até em beber um pouco da cerveja do meu pai para me sentir mais confiante.

Ela dançava e rodopiava como uma perfeita bailarina. Meio trôpega, é verdade, mas linda. Maravilhosamente linda. As pernas longas e esbeltas expostas, o sorriso meio torpe, o semblante quase sereno e o decote que mostrava o corpo ainda não completamente formado haviam me conquistado completamente.

Mas foi só quando eu me aproximei mais e pude ver seu rosto mais de perto que eu me dei conta de como era me apaixonar pela primeira vez. O brilho em seus olhos era sonhador, melancólico, absurdamente distante. Era como se ela estivesse em um mundo completamente diferente, alheia a tudo o que a cercasse. Era como se seu olhar tristonho abrigasse um mar de lágrimas que me chamava para mergulhar no seu interior.

Enquanto eu observava a cena, esperando meu pai trocar o pneu do carro, alguns veículos pararam na esquina onde o pequeno grupo estava conversando. Para cada um dos veículos que chegavam, uma das amigas da minha mais nova e primeira amada se debruçava na janela e, algum tempo depois, entrava e acenava para as outras uma despedida quase tristonha.

Até que sobraram apenas duas meninas na calçada suja. A menina do vestido branco e uma outra, na qual eu só reparei quando elas se abraçaram para se protegerem do frio. Ficaram encolhidas, juntas, até que veio um homem e falou algo que fez com que se separassem e começassem a andar de um lado ao outro rebolando mais que o necessário e fingindo ignorar o frio que fazia seus músculos estremecerem.

Mais próximo de onde eu estava, meu pai acabou de trocar o pneu e me chamou para ir embora. Relutante, entrei novamente no carro e fui virando o pescoço cada vez mais para conseguir observá-la. Antes que ela sumisse completamente da minha vista, mais um carro parou na esquina e a garota do vestido branco sumiu dentro de uma BMW com vidro fumê. Na minha mente infantil, era o pai dela que havia chegado para levá-la para casa depois de um passeio com as amigas.

Paramos num sinal de trânsito e o BMW parou ao lado. Da janela pela qual eu olhava, a luz batia diretamente no vidro fumê fazendo com que eu pudesse ver seus olhos maquiados deixarem cair duas pesadas lágrimas. E então o sinal ficou verde e eu nunca mais a vi. Nem naquela esquina e nem em nenhuma outra.


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