Admiro os suicidas
Sabe, eu admiro os suicidas.
De certo modo, eles não desistem no meio do caminho. Eles se matam e não
amarelam durante o ato ou até que seja tarde demais. Persistência, pelo menos,
eles têm.
Admiro os suicidas
decididos. Admiro as pessoas que tomam uma decisão difícil rapidamente. A maior
parte das pessoas só consegue pegar a lâmina de um apontador velho e ficar
brincando de desenhar na própria pele ao invés de dar logo um fim ao tormento.
Admiro sua resistência à dor também, mas isso é assunto para outro texto.
Admiro os suicidas
religiosos. "Por deus, eu morro. Porque Ele quis assim e um mundo melhor
dependerá de mim e blábláblá". As consequências e se o mundo será mesmo
melhor depois disso? Bom, eles não vão estar aqui para presenciar, certo?
Admiro sua fé inabalável e incondicional.
Admiro os suicidas
altruístas. São aqueles que se matam pelo bem de outra pessoa. Têm em si o
valor da solidariedade. Todos nós concordamos que ser solidário é raro nos dias
de hoje, então não vamos criticá-los.
Admiro os suicidas
aventureiros. Já tiveram o suficiente deste mundo, já conseguiram tudo o que
queriam. Hora de respirar novos ares numa nova encarnação ou no paraíso,
talvez. Que seja. Admiro-os por buscar algum motivo para viver. Algo que realmente
valha à pena. Por mais estranho e irônico que isso possa parecer.
Admiro os suicidas covardes.
Estão cheios de problemas, o dinheiro acabou, tirou nota baixa na prova e por
aí vai... Não querem enfrentar o mundo depois do fracasso e tomam a atitude que
dá mais certeza de evitá-lo. Um segundo de coragem insana é preciso, admirável
e é isso tudo o que eles têm. O último, mas ainda assim é um segundo de coragem
insana.
Admiro os suicidas culpados.
Aqueles que escrevem uma carta sobre tudo o que não mais suportam e pedem
desculpas. Admiro esse tipo de suicida pela confiança que tem em si mesmo ao
achar que só uma carta resolve a vida de quem fica chorando em seu túmulo.
Queria eu ser autoconfiante assim.
Admiro os suicidas que criam
álibis para o próprio suicídio. Talvez tenham medo do tribunal divino, sei lá.
A pessoa se joga na frente de um carro e, talvez, sofrerá menos no inferno. O
motorista - que, com sorte, estará embriagado - será, talvez, o maior culpado.
Admiro os suicidas curiosos,
que só querem descobrir o que existe do outro lado da tal ponte pro outro
mundo. Passam horas e horas divagando e procuram uma resposta definitiva.
Talvez fiquem cansados de tantas explicações de tantas religiões diferentes e
de tantas teorias de conspiração que, acreditem, até para isso existem.
Admiro os suicidas
declaradamente fracos. Não aguentam as pressões do mundo e se matam. Para mim,
pelo menos, faz sentido. Se for fraco, o mundo te esmaga. Aqui não tem espaço
para fracos, baby. Esmague a si mesmo que dói menos. Ou não. Nunca pratiquei
auto esmagamento, então não sei como é.
Admiro os suicidas
oportunistas. "Saio da vida para entrar na história". Quer modo
melhor de se promover? São inteligentes, pelo menos por um lado. Mas não me
pergunte o que ganham ou se colhem os frutos de ser alguém famoso depois de
morto porque eu realmente não sei. Talvez os mais famosos ganhem um camarim
para o espetáculo da vida aqui de baixo, vai saber...
Admiro os suicidas que
sentem saudades. "Tal pessoa morreu e eu quero me encontrar com ela".
Admiro a coragem e, principalmente, a lealdade para fazer de tudo - tudo mesmo
- para se reencontrarem. Lealdade também é um valor raro nos dias atuais.
Admiro os suicidas
masoquistas. Ou "quase-suicidas". É daquele tipo que pula do terceiro
andar e têm a burra certeza de que vão passar dessa para uma melhor. Todos
sabem que não é alto o suficiente para morrer, mas, mesmo assim, insistem em
pular. Covardes, talvez. É mais fácil quebrar as duas pernas, então admiro sua
coragem (?) de arriscar. Vai que dá certo.
Admiro os suicidas frios. E,
de certa forma, todos o são. Admiro quem põe a corda no pescoço e têm a frieza
de empurrar a mesa de centro com o pé sabendo o que acontecerá depois.
Admiro os suicidas por sua
natureza irônica e controversa. Por sua coragem de desistir, por sua audácia ao
escolher o lado teoricamente mais fácil e menos conhecido. Admiro quem fecha os
olhos e vai. Simplesmente vai.
Eles são muito corajosos mesmo e também muito sem noção, porque preferem dar fim a própria vida do que sobreviver para pagar pelo que fizeram, os suicidas não tem perdão de acordo com o texto bíblico.
ResponderExcluirVerdade.
ExcluirBelo texto!
ResponderExcluirBeijokas da Quel ¬¬
http://literaleitura2013.blogspot.com.br/
Obrigada!
ExcluirIntenso seu texto viu? Parabéns!
ResponderExcluirBeijokas!!
Sankas Books
Muito obrigada!
Excluirbjs
Um texto bem, digamos... Diferente. Intenso. Gostei! rsrsrs Aqui vemos os suicidas por um outro lado, porém, o suicidio ainda continua sendo um assunto bem sério a se tratar... Mas enfim... parabéns pelo texto!
ResponderExcluirhttp://www.decidindose.com/
Sem dúvida nenhuma, é um dos assuntos mais importantes e... delicados, talvez, de ser tratado. Não o suicídio em si, mas todos os problemas que levam uma pessoa a cometê-lo.
ExcluirMuito obrigada!
Você escreve muito bem, sabia? É claro que sabia! hahaha
ResponderExcluirMuito, muito, muito... diferente, não sei, mas gostei... hahaha
Vou continuar lendo todos, acabei de salvar a página em favorito, pra ler o resto das coisas depois!
beijos e continue escrevendo!
Parabéns!
www.fofokicesliterarias.com
auehauehuaehuaehua Muito obrigada e fico muito feliz que tenha gostado, moça!
ExcluirBeijos