Izabella

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Izabella


Encarou seu reflexo no espelho e uma lágrima escapou. Talvez tivesse sido melhor se ela tivesse escutado a mãe e não o namorado. Enquanto ele se movia furiosamente em seu interior, Izabella só conseguia se segurar nos ombros magros e chorar.

Amaldiçoou o namorado, por ter dito que eles precisavam; as amigas, por terem dito que seria maravilhoso. Odiou a si mesma por não ter escutado os avós e odiou o próprio pai por tê-la proibido de sair de casa. Se ele não tivesse feito isso, ela não sentiria aquele desespero insano por desobedecer. Adolescentes...

Enquanto ele se movia, freneticamente, Izabella encarava o imenso espelho redondo pregado no teto. O sangue manchava os lençóis na altura do seu quadril, a luz turva que emanava do lustre lhe dava uma incômoda sensação de melancolia, seu corpo estava manchado pelos dedos famintos, seu rosto estava coberto de lágrimas e seu coração estava imundo de arrependimento. Os olhos castanhos se fecharam por não conseguir mais suportar a cena grotesca refletida no teto. Com alguma sorte, aquilo acabaria logo.

Depois de alguns instantes, Leonardo saiu de cima dela e deitou-se ao seu lado enquanto sua respiração se normalizava. As lágrimas não mais escorriam e o coração da menina já havia se conformado. Nada poderia ser feito pelo passado. Agora era só seguir em frente e não cometer os mesmos erros. E torcer para que a pergunta clichê não fosse feita.

Mas ela foi feita. Leonardo, agora Izabella percebia, era tudo o que sua mãe dizia e mais um pouco. Previsível como era - e não eram todos os meninos? -, perguntou:

- Foi bom para você?

Izabella virou sua cabeça e encarou os olhos do namorado. Ele a pressionara para pegarem uma suíte no motel, disse que um relacionamento precisava de sexo e que, se não fizessem, eles não iriam além e a relação estava fadada ao fracasso. A menina, tola que era, estava exatamente onde ele queria que ela estivesse.

Sua mãe estava certa. Os garotos queriam e sempre iriam querer a mesma coisa. Poderiam amá-la e jurar se casar, mas, no fundo, eram homens. E, segundo os conhecimentos das amigas, homens sempre teriam um ponto fraco no meio das pernas.

Isso ela entendia. Ele precisava do sexo para manter a relação. E ela lhe forneceria o necessário por amá-lo tanto. Izabella colocou um sorriso no rosto e encarou os olhos de Leonardo através do espelho.


- Foi perfeito. – Disse, ignorando o desconforto entre as pernas e o nojo que sentia de si mesma. Ele era sim igual aos outros. Par perfeito para ela, que também era igual às outras.

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