Interligados

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Interligados


Observar tudo tão de perto chegava a ser desconcertante. Eles tinham um mundo próprio com linguagem própria e comunicação por telepatia. Pelo menos era o que me parecia. Aquele tipo de contato espiritual que os livros de romance insistem em descrever. E que nós, meros mortais, insistimos em dizer que não acreditamos, mas nunca paramos de buscar. Podem até chamar de hipocrisia, mas é involuntário. Um apelo desesperado de uma alma solitária. É a nossa natureza de seres individualistas que procuram uma alma gêmea. Nós somos assim.

Uma notícia boa: Esse mundo onde duas pessoas vivem em perfeita sincronia existe.

E uma que pode ser ruim: É praticamente impossível encontrá-lo.

De todos os casais que conheci, de todas as pessoas que encontrei, de todos os amores que vivi, nada, ninguém era assim. Com toda a certeza, os únicos seres que tinham esse tipo de ligação eram meus pais. Não era daquele tipo clichê em que um completa a frase do outro - isso se faz com o tempo e conhecimento -, ou daquelas em que a esposa devota sabe de todos os gostos do marido. Não. Não era assim. Uma frase pode muito bem ser completada por uma amiga e os gostos são conhecidos por qualquer um que tenha olhos e ouvidos sadios.

Nem pense que era uma ligação tão inocente quanto a de mãe e filho. É muito mais intenso do que isso. É espiritual, transcendental. Algo do tipo que nos faz nos sentir deslocados em sua companhia. Eles se olham e os outros desviam o olhar, eles se falam e os outros fingem não ouvir. Mas também desejam fazer parte daquilo. Invejam o que eles têm, o que eles tinham.

E é aí que surge o motivo pelo qual eu não quero mais fazer parte de algo assim. Antes,eu costumava sonhar com uma pessoa desse jeito. Que me entendesse, que me amasse e que fosse amada por mim com todas as forças que podem existir dentro de alguma alma. Eu queria depender dela e que ela dependesse de mim. Mas não quero mais. Não depois do que presenciei. A morte de um é a ruína do outro e eu não quero me imaginar sendo vítima de algo tão devastador quanto o amor verdadeiro.

É tão insano que beira o doentio. E dolorosamente mortal perder alguém tão próximo, tão seu, tão intimamente ligado ao seu corpo, alma e coração. Algumas pessoas nasceram para ficar juntas pelo resto da eternidade. São compatíveis de todos os modos possíveis, personificação da tão sonhada alma gêmea. Quando o destino separa essas pessoas, os efeitos são devastadores. Tão devastador que dói no coração de quem vê como ficam quando separados.


Ele morreu e ela sucumbiu à dor. Não vejo como poderia ser diferente. Eram perfeitos demais um para o outro. Eram tudo e, quando se separaram, viraram algo pior que nada. Só uma metade. Incompleta. A sombra do que foi, a injustiça do que é e a lembrança ingrata do que poderia ter sido. Não é mais ela mesma, nunca será nem mesmo uma sombra do que foi. Porque algumas pessoas nasceram para morrer juntas. E algumas pessoas realmente morrem.

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