Interligados
Observar tudo tão de perto chegava
a ser desconcertante. Eles tinham um mundo próprio com linguagem própria e
comunicação por telepatia. Pelo menos era o que me parecia. Aquele tipo de
contato espiritual que os livros de romance insistem em descrever. E que nós,
meros mortais, insistimos em dizer que não acreditamos, mas nunca paramos de
buscar. Podem até chamar de hipocrisia, mas é involuntário. Um apelo
desesperado de uma alma solitária. É a nossa natureza de seres individualistas
que procuram uma alma gêmea. Nós somos assim.
Uma notícia boa: Esse mundo
onde duas pessoas vivem em perfeita sincronia existe.
E uma que pode ser ruim: É
praticamente impossível encontrá-lo.
De todos os casais que
conheci, de todas as pessoas que encontrei, de todos os amores que vivi, nada,
ninguém era assim. Com toda a certeza, os únicos seres que tinham esse tipo de
ligação eram meus pais. Não era daquele tipo clichê em que um completa a frase
do outro - isso se faz com o tempo e conhecimento -, ou daquelas em que a
esposa devota sabe de todos os gostos do marido. Não. Não era assim. Uma frase
pode muito bem ser completada por uma amiga e os gostos são conhecidos por
qualquer um que tenha olhos e ouvidos sadios.
Nem pense que era uma
ligação tão inocente quanto a de mãe e filho. É muito mais intenso do que isso.
É espiritual, transcendental. Algo do tipo que nos faz nos sentir deslocados em
sua companhia. Eles se olham e os outros desviam o olhar, eles se falam e os
outros fingem não ouvir. Mas também desejam fazer parte daquilo. Invejam o que
eles têm, o que eles tinham.
E é aí que surge o motivo
pelo qual eu não quero mais fazer parte de algo assim. Antes,eu costumava
sonhar com uma pessoa desse jeito. Que me entendesse, que me amasse e que fosse
amada por mim com todas as forças que podem existir dentro de alguma alma. Eu
queria depender dela e que ela dependesse de mim. Mas não quero mais. Não
depois do que presenciei. A morte de um é a ruína do outro e eu não quero me
imaginar sendo vítima de algo tão devastador quanto o amor verdadeiro.
É tão insano que beira o
doentio. E dolorosamente mortal perder alguém tão próximo, tão seu, tão
intimamente ligado ao seu corpo, alma e coração. Algumas pessoas nasceram para
ficar juntas pelo resto da eternidade. São compatíveis de todos os modos
possíveis, personificação da tão sonhada alma gêmea. Quando o destino separa
essas pessoas, os efeitos são devastadores. Tão devastador que dói no coração
de quem vê como ficam quando separados.
Ele morreu e ela sucumbiu à
dor. Não vejo como poderia ser diferente. Eram perfeitos demais um para o outro.
Eram tudo e, quando se separaram, viraram algo pior que nada. Só uma metade.
Incompleta. A sombra do que foi, a injustiça do que é e a lembrança ingrata do
que poderia ter sido. Não é mais ela mesma, nunca será nem mesmo uma sombra do
que foi. Porque algumas pessoas nasceram para morrer juntas. E algumas pessoas
realmente morrem.
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