Carpe Diem

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Carpe Diem


Peguei um livro. E já na segunda página percebi que não era o que eu realmente queria ou precisava. É aquele tipo de coisa que te faz pensar no que você não quer pensar e lembrar de coisas que você não gostaria de viver de novo. Ainda mais nos momentos em que o coração fica mais frágil que alumínio fundido nas mãos de um experiente ferreiro.

Também tentei ouvir música, mas legião urbana parece ser só o que existe no mundo. Ou então as lembranças de quando você dizia que eu havia me apaixonado pelos seus erros vem junto com a voz do Humberto nos alto falantes. Música é uma maravilhosa forma de arte, sem dúvida, mas também nos faz lembrar o que deveríamos – e precisamos - esquecer.

A academia cansa enquanto você pensa em não cair de cabeça na esteira ou em qual exercício e peso serão os próximos. Nada de spinnig. Executar movimentos repetitivos que não exigem concentração não é o aconselhável. Algo mais pesado, por favor, e que me sirva de distração. Me serviram por uma hora e meia, apenas.

Depois veio a noite e a lua cheia lá em cima, que parece deixar tudo mais melancólico e, de certo modo, belo. Mas não para mim. Apenas o "melancólico" cabe ao caso de alguém que não consegue parar de pensar em te esquecer. Uma onda de tristeza invade meu peito toda vez que penso em você. E uma vontade insana de te seguir, de fazer qualquer coisa que não seja ficar aqui, sozinha. E então penso em como o mundo e o destino são injustos com os apaixonados. Mas não serei fraca. Nunca fui. Não vou chorar, me recuso a desabar ou a consumir todas as calorias de uma gigante lata de sorvete. Meu amor se vai e o que eu tenho agora é só meu velho e seguro orgulho. Deixarei ele aqui comigo, à minha frente, como um escudo. Pelo menos isso.

Sem ao menos perceber que dormi, acordo com o sol queimando meu rosto. Não me lembrei de fechar a cortina enquanto olhava a lua numa estranha noite de auto piedade e masoquismo. Mais uma vez, sua imagem surge por entre as nuvens, sorrindo. Tão calmo quanto quando eu te observei dormindo. Um sorriso tristonho brota em meu rosto e eu penso que, afinal, talvez eu devesse seguir seus conselhos e aproveitar o pouco de tempo que nos resta. Ou talvez eu devesse seguir meus próprios conselhos - para variar - e não te ver mais. Que a despedida seja o mais breve possível para não causar mais danos ao meu coração já ferido.

Mas é só por um tempo. Finalmente decido ir trabalhar ao invés de me afogar na banheira de segunda mão e te vejo entrando no carro preto, também de segunda mão. Você acena, tenso, e mais um sorriso surge nos meus lábios. Você sorri junto e todas as divagações da noite anterior escoam pelo ralo dos meus próprios conselhos não seguidos. Que, por sinal, são muitos. Dane-se o depois quando te tenho por agora.

Todos os meus pensamentos devem aparecer estampados no meu rosto porque você solta uma gargalhada e balança a cabeça como quem diz que já imaginava minha decisão. Ou falta dela. Seus olhos me dizem que eu não vou te esquecer tão facilmente e os meus te desafiam a duvidar. Mas nós dois sabemos quem é que vai ganhar.

"É tão simples" você continua a dizer. Eu deixo tudo para a última hora, por que não deixar a despedida para depois também? Sei que seu corpo se aproxima, mas seu sorriso é o que prende minha atenção ao chegar cada vez mais perto do meu - meio relutante no início-, mas eu logo me conformo com o rumo das coisas e aceito meu destino. E fico extasiada por isso. Quem será o primeiro a sugerir para faltar no trabalho? Quem será o primeiro a tomar a iniciativa de forçar mais ainda a estaca contra o meu peito? Tanto faz, não importa mais. Porque suas mãos enlaçam minha cintura e os meus braços reclamam para ter seu corpo contra o meu.

E, bom, que mal vai fazer? Fui eu mesma quem um dia preguei a filosofia “carpe diem”.

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