Inferno particular

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Inferno particular


Rio de Janeiro, 1º de outubro de 2013.

Caro ex-amor,

Seria mais fácil saber a verdade da sua própria boca. Seria um pouco menos doloroso, digamos assim, e eu ainda teria algum tipo de agradecimento à fazer. "Obrigada por ser sincero e corajoso." Mas nem para isso você me serviu.

Bom mesmo seria não ter te conhecido, sabe. Nunca ter visto seu rosto ou escutado sua voz. Isso sim seria realmente ótimo. Me pouparia de tanta coisa... Eu não me apaixonaria, você não me enganaria e não estaríamos nessa situação. Simples. Prático.

Mas, como dizem os mais céticos, sempre tem um filho da puta. E esse foi você. Que me abraçou como se eu fosse única, que me beijou como se não existisse mais ninguém no mundo e que me jogou fora como se eu fosse um sapato velho.

Não no sentido romântico, claro. Não pense que estarei aqui para te aquecer, porque eu não estarei. Mas um sapato que você desprezou por ele ser velho demais até mesmo para matar baratas. Ou novo demais, como é o caso. Vai entender...

Meu ex-amor, não se esqueça de mim. E, mesmo que tente, não será fácil. Sabe por quê? Porque você me escolheu. Mesmo que não esteja comigo, está com ela. Me traiu com a minha própria mãe e me verá nos lugares mais estranhos que puder imaginar. Quem sabe até broxe quando me imaginar apontando uma faca para o seu peito enquanto os dois estiverem na cama? É isso o que ganha por me deixar apenas uma carta. Imprestável! Nem para se despedir decentemente serve! Uma carta! Uma maldita de uma carta! Não, nem li tudo. Abri o envelope, vi o primeiro parágrafo e joguei tudo na lareira acesa. Só para não correr o risco de ler aquele monte de baboseira sobre “o amor foi mais forte” e essas coisas todas que você dizia para mim e agora diz à minha mãe.

Por fim, espero que se divirta aí na Grécia. Com ela. Com a mulher que, infelizmente, não será minha ex-mãe. Por mais que vocês tenham me traído, eu ainda a amo e nunca poderei odiá-la.

Então o ódio todo recai sobre você. Vai se lembrar de mim, das minhas lágrimas, do meu ódio. Quando olhá-la, me verá. Quando pensar em mim, me sentirá apertando seu pescoço ou cortando suas bolas. Só peço que não volte em hipótese alguma. Não adiantará nada. Serei seu inferno particular, ex-amor. Aqui, na Grécia, ou em qualquer outro lugar.


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