O primeiro dia de aula
Sua barriga insiste em fazer
movimentos estranhos enquanto seus passos te levam pelas escadas até o andar
certo. Pelo menos você espera que seja o andar certo. Os tais passos são
estupidamente calculados para que sejam decididos, daqueles que te levam
diretamente ao lugar que deve ir. E é exatamente por andar com o queixo
empinado como se fosse "dona do pedaço" que todos percebem
que você não é a tal "dona do pedaço". É claro que você só
se dá conta disso depois de uns dois ou três períodos de observação de calouros
tão idiotas quanto você era antes.
O medo ainda passeia pela
sua barriga e você, realmente, espera que a tão temida diarréia não resolva
aparecer e dar um passeio também. Primeiro dia de piriri é humilhante demais.
Como se andar feito um mulambo no meio de um corredor cheio de jóias, saias e
vestidos bem cortados não fosse humilhante o suficiente. Não sei qual dos tipos
de calouros é pior. Os que ainda acham que estão no ensino médio ou os que
acreditam que estão no baile formatura. Terno, gravata, gel no cabelo e sapatos
imitando espelhos. O que esse ser tem na cabeça, afinal? Calma aí, fera, ainda
faltam cinco anos. Você vai ter tempo de se preparar para a festa. Ou não...
Vai saber o que o temido TCC te guarda. Mas enfim...
A sala é maior do que você
pensava. Uau! É a faculdade! É tão excitante. Mal pode esperar para ter a
primeira aula.
Não. Ela não é fantástica e,
em se tratando do curso de direito, não te jogam num juri simulado logo de
cara. Não fazem isso nem mesmo depois que o seu rabo passa pela porta. O que
aconteceu foi que a professora - que não se veste como se estivesse numa festa
de formatura - perguntou o nome e as pretensões para o futuro de cada um dos
alunos. Caramba! Isso é tão ensino médio que te broxa. E daí se ela tem
doutorado? É broxante e pronto.
Ainda bem que nos períodos
seguintes você aprende a dar valor as coisas que realmente têm importância. Não
tem como ser professor de faculdade sem uma pós-graduação, seu anencéfalo! E
não. Ela não ganha milhões por isso.
Mas é a "Ciência do
direito"! A matéria base para todo o estudo do curso! Você vai aprender
sobre as diferentes fases jurídicas! É tão excitante!
Na verdade, "ciência do
direito" pode ser resumida em uma só palavra: História. Que, por sinal,
você estudou por mais de treze anos da sua vida.
A diferença é que na escola
você não aprendeu sobre naturalismo, positivismo e pós-positivismo. E você não
vai ver a aplicação do pós-positivismo europeu no Brasil, mas as decepções e os
abismos que existem entre prática e teoria ficam para outro texto.
Exceto uma. Uma decepção
merece estar no texto sobre o primeiro dia de aula justamente por ela ter
acontecido logo no primeiro dia de aula. Você, aspirante à juíza (isso também
muda ao longo do curso), não vai usar o famoso martelinho, não vai ficar
batucando aquele troço de madeiro feito uma criança com um chocalho. Ele é só
um objeto do direito americano enfiado na sua cabeça por seriados e filmes
legais demais para serem baseados no direito brasileiro.
Logo de cara, quebram as
suas esperanças infantis e você pensa que não deveria estar ali. Tanto trabalho
para não usar o amado martelinho! Que horror! E é só a primeira de muitas
decepções.
Bom... A mensagem que fica é
a que você mais quis ouvir, pelo menos:
Bem vinda à faculdade de
direito.
Achei o texto interessante e bastante engraçados ,seguirei o blog o/
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado. Obrigada. :33
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