Olivia
O veneno escorria tanto pelos lábios que gostaria de estar usando batom vermelho. Mas não poderia, seria vulgar demais para a ocasião. Detestava as regras impostas por pessoas com sérios problemas sexuais. Como se um terno e palavras difíceis pudessem resolvê-los num passe de mágica, numa hora de elegância.
De qualquer forma, com batom
vermelho ou não, o fato é que Olivia fazia suas vítimas se enforcarem com a
própria língua. Era uma coisa agradável de se ver, por mais bizarro que possa
parecer inicialmente.
A juíza, de estatura baixa e
um tanto quanto magra demais, sorriu para o promotor. Dessa vez, ele era o seu
preferido. Definitivamente. Tanto pela sua imagem imponente quanto pelas
palavras ferinas. Lembrava-se de quando era ela em seu lugar e sentiu saudades
de argumentar, discutir. Sentiu saudades de ganhar.
Ah, mas ela ganharia. Claro
que ganharia. Se não hoje, amanhã. Não era o tipo de mulher que se permitiria
perder tão facilmente. Não sem uma briga decente.
Se alguém perguntasse o que o
homem vestido por um terno cinza, que apenas insinuava a existência de bons
músculos por baixo de tudo, falava, Olivia diria que não se importava. Já havia
decidido quem venceria aquele duelo em particular. O resto era o resto e pronto.
Havia planejado tudo apenas
durante o breve tempo da argumentação. Ela o chamaria para sair, para tomar um
drinque, talvez. Ele inventaria uma desculpa qualquer, afinal era casado, mas
desistiria da negativa no meio do caminho. Todos desistiam.
Ele, então, ligaria para a
mulher e inventaria alguma reunião de urgência do ministério público ou alguma
discussão que só poderia ser feita de noite. Desculpa é o que não falta. Ambos
sairiam do fórum no fim do expediente e iriam para algum restaurante discreto
ou para o apartamento que Olivia reservava para esse tipo de ocasião.
Ambos acabariam no quarto dela
e sem roupas. Estas, estariam espalhadas pela sala, cozinha, banheiro ou
quarto. Formariam uma trilha pelo apartamento levando qualquer visitante até o
destino final dos dois amantes.
Entre beijos, suspiros,
gemidos e sussurros, ambos teriam uma noite memorável.
Se saciariam, ela se saciaria
dele em algumas horas e então poderia fornecer-lhe o grand finale. Usando os pedaços remendados das línguas de outras
vítimas para criar uma espécie de corda grande o suficiente para pendurar no
lustre e dar a volta no pescoço do promotor, Olivia penduraria o inerte
servidor público no lustre e veria o corpo exposto e morto pelo instrumento que
ele mais usava: sua língua.
Sumir com o corpo e fazer
desaparecerem as evidências eram a parte mais fácil. Naquele ramo, lidando com
gênios do crime, não era muito difícil de aprender com os erros dos melhores.
No dia seguinte, Olivia
voltaria ao fórum e algumas pessoas se dariam conta do sumiço do promotor.
Algum alvoroço durante algum tempo e, como sempre, nenhuma resposta concreta,
nenhuma explicação plausível; apenas teorias de conspiração nunca confirmadas.
Seria a sua vitória. Apenas
uma de muitas outras.
Bateu com o martelo na mesa e
proferiu a sentença. O réu fora condenado, o ministério público, mais uma vez,
obtivera sucesso. Olivia sorriu e passou a língua pelos lábios antes de pedir
ao promotor que a acompanhasse até seu gabinete.
Que os jogos se iniciassem.
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