Olivia

domingo, 20 de novembro de 2016

Olivia



O veneno escorria tanto pelos lábios que gostaria de estar usando batom vermelho. Mas não poderia, seria vulgar demais para a ocasião. Detestava as regras impostas por pessoas com sérios problemas sexuais. Como se um terno e palavras difíceis pudessem resolvê-los num passe de mágica, numa hora de elegância.

De qualquer forma, com batom vermelho ou não, o fato é que Olivia fazia suas vítimas se enforcarem com a própria língua. Era uma coisa agradável de se ver, por mais bizarro que possa parecer inicialmente.

A juíza, de estatura baixa e um tanto quanto magra demais, sorriu para o promotor. Dessa vez, ele era o seu preferido. Definitivamente. Tanto pela sua imagem imponente quanto pelas palavras ferinas. Lembrava-se de quando era ela em seu lugar e sentiu saudades de argumentar, discutir. Sentiu saudades de ganhar.

Ah, mas ela ganharia. Claro que ganharia. Se não hoje, amanhã. Não era o tipo de mulher que se permitiria perder tão facilmente. Não sem uma briga decente.

Se alguém perguntasse o que o homem vestido por um terno cinza, que apenas insinuava a existência de bons músculos por baixo de tudo, falava, Olivia diria que não se importava. Já havia decidido quem venceria aquele duelo em particular. O resto era o resto e pronto.

Havia planejado tudo apenas durante o breve tempo da argumentação. Ela o chamaria para sair, para tomar um drinque, talvez. Ele inventaria uma desculpa qualquer, afinal era casado, mas desistiria da negativa no meio do caminho. Todos desistiam.

Ele, então, ligaria para a mulher e inventaria alguma reunião de urgência do ministério público ou alguma discussão que só poderia ser feita de noite. Desculpa é o que não falta. Ambos sairiam do fórum no fim do expediente e iriam para algum restaurante discreto ou para o apartamento que Olivia reservava para esse tipo de ocasião.

Ambos acabariam no quarto dela e sem roupas. Estas, estariam espalhadas pela sala, cozinha, banheiro ou quarto. Formariam uma trilha pelo apartamento levando qualquer visitante até o destino final dos dois amantes.

Entre beijos, suspiros, gemidos e sussurros, ambos teriam uma noite memorável.

Se saciariam, ela se saciaria dele em algumas horas e então poderia fornecer-lhe o grand finale. Usando os pedaços remendados das línguas de outras vítimas para criar uma espécie de corda grande o suficiente para pendurar no lustre e dar a volta no pescoço do promotor, Olivia penduraria o inerte servidor público no lustre e veria o corpo exposto e morto pelo instrumento que ele mais usava: sua língua.

Sumir com o corpo e fazer desaparecerem as evidências eram a parte mais fácil. Naquele ramo, lidando com gênios do crime, não era muito difícil de aprender com os erros dos melhores.

No dia seguinte, Olivia voltaria ao fórum e algumas pessoas se dariam conta do sumiço do promotor. Algum alvoroço durante algum tempo e, como sempre, nenhuma resposta concreta, nenhuma explicação plausível; apenas teorias de conspiração nunca confirmadas.

Seria a sua vitória. Apenas uma de muitas outras.

Bateu com o martelo na mesa e proferiu a sentença. O réu fora condenado, o ministério público, mais uma vez, obtivera sucesso. Olivia sorriu e passou a língua pelos lábios antes de pedir ao promotor que a acompanhasse até seu gabinete.


Que os jogos se iniciassem.

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