Caprichosos destinos

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Caprichosos destinos



- Aquele ali, Cupido! – O senhor de cabelos e barbas brancas disse, enquanto fazia uma dancinha de alegria.
- Será que tem como parar de pular como se fosse uma gazela louca?!  - O tinhoso com chifres vermelhos sempre detestava o jeito como o velho ficava dançando.
- Deixa de ser chato, Satanás! É que eu estou...
- Adorando essa brincadeira... – Lúcifer, Cupido e Rafael completaram juntos a clássica frase de Deus enquanto reviravam os olhos.
- Já falei que prefiro “Lúcifer”. – Os olhos do ex-anjo ficaram vermelhos de raiva.
- Tanto faz. – Deus descartou a ideia com um aceno da mão direita. – É aquele ali mesmo, Cupido. Pode acertar.
Uma flecha voou do arco do jovem anjo até o pichador, logo à frente do quinteto formado por Deus, Satanás – ou Lúcifer, como preferir -, Cupido, o arcanjo Rafael e o demônio Aamon.
- E agora? - Cupido perguntou.
- Agora é a minha vez. – Lúcifer sorriu e balançou as mãos no ar, apagando a cena à sua frente. – Vamos deixar isso interessante... – Rafael suspirou e Aamon, que não era muito de falar, sorriu. – Aquela.
- De novo não... – Rafael gemeu.
- Ótima escolha, chefe. – Aamon aprovou. Os outros quatro o encararam, esperando a próxima palavra, mas ele não disse mais nada desde então.
Quando percebeu que o demônio não completaria seu pensamento, Cupido atirou a flecha.
- Você é doente... – Rafael declarou.
- Doente por quê? - Lúcifer perguntou.
- São completamente opostos! Ele é um pichador que mora na rua! E ela é uma socialyte!
- E daí?
- E daí que eles vão...
- Se apaixonar, se casar e ter filhos. Assim como a bíblia diz. – Deus sorriu, examinando as cutículas.
- Não vamos começar a discutir o que a bíblia diz de novo. Já fizemos isso por mais de vinte e um séculos, deixa para os humanos, que fazem isso muito bem. – O anjo caído virou o rosto para o outro lado, como que para dizer que não iria participar daquela velha discussão novamente.
- Como quiser. – Deus deu de ombros e continuou examinando as próprias unhas enquanto completava: - eles vão se apaixonar, se casar e ter filhos.
- Não! – Rafael gritou, exasperado.
- Não mesmo! – Lúcifer concordou. – Isso não é um conto de fadas.
- Por que você nunca deixa as coisas serem como eles querem? - Deus perguntou.
- Porque é mais engraçado quando não são... Eles podem se conhecer e se odiar no início...
- Clichê.
- Podem se divorciar, então.
- Todos eles fazem isso hoje em dia.
- Reprovados pela família dela?
- Ah! Que soninho! – O Todo Poderoso bocejou.
- Ela pode querer pular de um prédio e ele...
- Por que as pessoas acham que você tem cara de mau, Satanás?
- Mas eu ainda nem terminei!
- Tanto faz! Eu acho que ela deveria dirigir embriagada pelas ruas e atropelá-lo. Assim, vai se lembrar dele para sempre.
As outras três entidades olharam para o semblante calmo de Deus com os olhos arregalados. Aamon sorriu novamente, Rafael e Cupido não esboçaram nenhuma reação e Lúcifer soltou um assovio que queria dizer “genial”.
- Pronto? - Cupido perguntou. Os outros concordaram, ansiosos pelo resultado de mais aquela ideia brilhante de Deus. – Feito. – Anunciou. - Mais um destino traçado.

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