Caprichosos destinos
- Aquele ali, Cupido! – O
senhor de cabelos e barbas brancas disse, enquanto fazia uma dancinha de
alegria.
- Será que tem como parar
de pular como se fosse uma gazela louca?!
- O tinhoso com chifres vermelhos sempre detestava o jeito como o velho
ficava dançando.
- Deixa de ser chato,
Satanás! É que eu estou...
- Adorando essa
brincadeira... – Lúcifer, Cupido e Rafael completaram juntos a clássica frase
de Deus enquanto reviravam os olhos.
- Já falei que prefiro
“Lúcifer”. – Os olhos do ex-anjo ficaram vermelhos de raiva.
- Tanto faz. – Deus
descartou a ideia com um aceno da mão direita. – É aquele ali mesmo, Cupido.
Pode acertar.
Uma flecha voou do arco do
jovem anjo até o pichador, logo à frente do quinteto formado por Deus, Satanás
– ou Lúcifer, como preferir -, Cupido, o arcanjo Rafael e o demônio Aamon.
- E agora? - Cupido
perguntou.
- Agora é a minha vez. –
Lúcifer sorriu e balançou as mãos no ar, apagando a cena à sua frente. – Vamos
deixar isso interessante... – Rafael suspirou e Aamon, que não era muito de
falar, sorriu. – Aquela.
- De novo não... – Rafael
gemeu.
- Ótima escolha, chefe. –
Aamon aprovou. Os outros quatro o encararam, esperando a próxima palavra, mas
ele não disse mais nada desde então.
Quando percebeu que o
demônio não completaria seu pensamento, Cupido atirou a flecha.
- Você é doente... –
Rafael declarou.
- Doente por quê? -
Lúcifer perguntou.
- São completamente opostos! Ele é um pichador que mora na rua!
E ela é uma socialyte!
- E daí?
- E daí que eles vão...
- Se apaixonar, se casar e
ter filhos. Assim como a bíblia diz. – Deus sorriu, examinando as cutículas.
- Não vamos começar a
discutir o que a bíblia diz de novo. Já fizemos isso por mais de vinte e um
séculos, deixa para os humanos, que fazem isso muito bem. – O anjo caído virou
o rosto para o outro lado, como que para dizer que não iria participar daquela
velha discussão novamente.
- Como quiser. – Deus deu
de ombros e continuou examinando as próprias unhas enquanto completava: - eles
vão se apaixonar, se casar e ter filhos.
- Não! – Rafael gritou,
exasperado.
- Não mesmo! – Lúcifer
concordou. – Isso não é um conto de fadas.
- Por que você nunca deixa
as coisas serem como eles querem? - Deus perguntou.
- Porque é mais engraçado
quando não são... Eles podem se conhecer e se odiar no início...
- Clichê.
- Podem se divorciar,
então.
- Todos eles fazem isso
hoje em dia.
- Reprovados pela família
dela?
- Ah! Que soninho! – O
Todo Poderoso bocejou.
- Ela pode querer pular de
um prédio e ele...
- Por que as pessoas acham
que você tem cara de mau, Satanás?
- Mas eu ainda nem
terminei!
- Tanto faz! Eu acho que
ela deveria dirigir embriagada pelas ruas e atropelá-lo. Assim, vai se lembrar
dele para sempre.
As outras três entidades
olharam para o semblante calmo de Deus com os olhos arregalados. Aamon sorriu
novamente, Rafael e Cupido não esboçaram nenhuma reação e Lúcifer soltou um
assovio que queria dizer “genial”.
- Pronto? - Cupido
perguntou. Os outros concordaram, ansiosos pelo resultado de mais aquela ideia
brilhante de Deus. – Feito. – Anunciou. - Mais um destino traçado.
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