O caderno, um capuccino e o violão

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O caderno, um capuccino e o violão


Você pegava a caneca cheia de capuccino e se sentava no tapete da sala. A mancha de quando derramamos o líquido enquanto fazíamos amor nunca mais desapareceu. O caderno, sempre repousado na mesa de centro, guardava rabiscos e rascunhos com a nossa caligrafia alternada, dependendo de quem é que tomava posse do violão. Algumas de nossas composições ficaram guardadas na nossa falha memória e, vez ou outra, eram esquecidas ou sofriam modificações aleatórias.

Em meu coração, naquela época, habitavam flores e era sempre primavera. Dizem que o amor deixa as pessoas abobalhadas, acreditando em contos de fadas. Eu tive o meu próprio castelo da Cinderela e fui feliz por um tempo, enquanto acreditava nas ilusões que sua voz rouca me proporcionava.

E foram tantas! Tantas promessas quebradas e mentiras contadas ao pé do ouvido que a primavera que havia aqui dentro foi dando lugar a um infinito deserto, repousado numa fria madrugada eterna.

Agora, o caderno só guarda minha caligrafia tosca e inclinada e são só as minhas digitais que deixam marcas no violão. O capuccino esquecido ao meu lado esfria e mancha no tapete, enfim, sumiu.

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