O caderno, um capuccino e o violão
Você pegava a caneca cheia de
capuccino e se sentava no tapete da sala. A mancha de quando derramamos o
líquido enquanto fazíamos amor nunca mais desapareceu. O caderno, sempre
repousado na mesa de centro, guardava rabiscos e rascunhos com a nossa
caligrafia alternada, dependendo de quem é que tomava posse do violão. Algumas
de nossas composições ficaram guardadas na nossa falha memória e, vez ou outra,
eram esquecidas ou sofriam modificações aleatórias.
Em meu coração, naquela época,
habitavam flores e era sempre primavera. Dizem que o amor deixa as pessoas abobalhadas,
acreditando em contos de fadas. Eu tive o meu próprio castelo da Cinderela e
fui feliz por um tempo, enquanto acreditava nas ilusões que sua voz rouca me
proporcionava.
E foram tantas! Tantas
promessas quebradas e mentiras contadas ao pé do ouvido que a primavera que
havia aqui dentro foi dando lugar a um infinito deserto, repousado numa fria
madrugada eterna.
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