Como todos os outros abestados

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Como todos os outros abestados



Sair do ensino médio pode ser uma coisa maravilhosa. Você se liberta da escola e, por mais pressão que exista em cima de “tomar um rumo na vida”, o sentimento de missão cumprida e “fim de uma era, início de outra” é o que predomina nos pobres e inocentes corações pré-adultos de dezoito, dezenove anos.

Até o momento em que a “vida adulta” bate na porta e diz um sonoro “cheguei!”. Primeiro passo: vestibular. Se vira, criatura, e arruma um curso decente.

- Que tal engenharia?

- Não. Definitivamente, não.

- Mas você era um exemplo de aluna, tem que escolher engenharia de qualquer jeito!

Primeiro problema: não seguir os desejos da família.

Claro que eles dizem “faça o que te faz feliz”, mas... Sinceramente? Conversa para boi dormir. Você deve sim ser feliz, mas do jeito deles. Se for de outro jeito, não serve. Principalmente se sua escolha for de seguir a profissão que seus familiares mais odeiam. Mas se acalma, criatura, que isso é só o começo.

Segundo passo: emprego. Ou estágio. A questão é que você não pode ficar em casa o dia todo apenas coçando saco. Tem que fazer alguma coisa. Sim... Você arruma um emprego/estágio/bico e não passa mais os dias dormindo.

E também não tem mais tempo.

- Você só trabalha e estuda, não tem mais tempo para a família, nunca vê sua mãe...

E adianta falar que quem mandou você arrumar um emprego é justamente quem mais reclama dele? Claro que não! Deixa de ser iludido, meu filho. E aceita que dói menos.

É só o segundo problema: bipolaridade familiar.

Mas não se preocupe. Essas são as questões menos conflitantes. Existe um problema que fica acima de todas essas cobranças e obrigações. Tem um motivo pelo qual sua família não vai só reclamar; vai fazer da sua vida um inferno.

Nós somos a geração desgraçada que “fica em casa por causa da internet”, “sai pra balada todo dia”, “bebe até cair”, “mais rodada que blayblade”, “não usa roupa”, “quer só ostentar”, “ouve música de gente doida”, “ouve música de gente velha”, “quer o celular top” e por aí vai...

Você, jovem do século XXI, sabe que a evolução tecnológica foi a melhor coisa que já aconteceu na história da humanidade porque você fica perto de todo mundo o tempo todo. E você também sabe que a pior coisa que existe no mundo é justamente a que te persegue o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia, com internet ou sem internet: família.

É aí que você descobre que a internet não foi uma invenção tão boa. Não quando todo mundo que você não queria que ficasse vasculhando a sua vida, é quem mais vasculha , fuça, vira seu facebook do lado avesso procurando por uma só coisa: Foto. Mas não é foto sua, caro ser iludido, procuram por foto do amor da sua vida mesmo.

E eis que surge o maior problema dessa nova vida que você tanto almejou: a cobrança maior não é quanto a faculdade ou a carreira. O problema maior explode quando você decide simplesmente não se casar aos vinte e dois anos de idade, ao contrário do seu primo que é o “exemplo de bom menino”.

Você, caro idiota que ousou crescer, foi tachado de ovelha negra da família por não seguir o curso que lhe sugeriram, por não trabalhar, por trabalhar e, agora, por ser solteiro. Porque todos os jovens da sua idade, independentemente do sexo, raça, condição social, religião e escolha têm que ter um parceiro(a) para chamar de namorado(a) e apresentar aos pais num final de semana onde se reúnem todos os malditos familiares que fuçam seu facebook dia e noite.

E sabe o que você vai fazer? Com toda essa revolta contra pais e mães desesperados por netos e tias encalhadas que insistem em conhecer os “momozinhos”, você simplesmente vai arrumar uma namorada, vai se apaixonar, pedi-la em casamento e ter dois filhos e um cachorro labrador – que gosta de crianças.


E sabe o que é pior? Você, imbecil abestado, vai fazer com as gerações futuras exatamente o que seus familiares fizeram com você. Por que? Porque, no fim, você não é diferente deles.

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