Antimatéria

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Antimatéria


Escrever é meu único escape. Enquanto meus dedos batucam furiosamente no teclado, meu coração se esvazia e eu consigo ter uns poucos instantes de paz. Um segundo ao menos de tranquilidade. Sem ter que temer me desmanchar.

Porque meu peito é uma bomba relógio e a escrita o atrasa. A qualquer momento pode explodir e levar consigo o que antes foi um imenso forte impenetrável, inatingível. Se o tempo acabar, tudo voa pelos ares e o autocontrole que tanto lutei para criar se desfaz.

Porque esse sofrimento me mata. Não confio em mim mesma quando minha mente vaga por tais caminhos tortuosos. Não confio em meus olhos para se manterem secos enquanto me lembro do que me faz ter vontade de chorar.

Porque eu sou feita de aço, mas só por fora. Uma casca dura e fria que protege algo com a consistência de uma maria-mole. O sabor amargo é como uma essência, o toque final no que seria um doce por demais enjoativo.

Então, escrever é minha única válvula de escape. Uma saída de emergência para todo o ar poluído que guardo aqui dentro. É o meu porto seguro, meu altar; a zona de conforto na qual eu não preciso temer explodir.

Porque eu sou uma partícula de antimatéria. Letal. Pronta para destruir tudo á minha volta ao menor sinal de perigo.

Pronta para autodestruição.

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