Veneno
Aproximou-se, viu o que lhe
esperava e sentou-se à mesa. Sua cozinheira, como sempre, havia feito um ótimo
trabalho. Começaria pela salada, comeria o frango e então a torta, de
sobremesa. Orgulhava-se da mesa farta e longa com todas as iguarias que o
dinheiro poderia comprar. Nunca havia passado fome e se orgulhava disso.
Nascido em berço de ouro, e, depois dele, seus filhos. Não era motivo para
vergonha. Muito pelo contrário: era seu maior orgulho.
A casa estava absurdamente
vazia naquele início de tarde. A mulher e as crianças haviam viajado de férias
enquanto os empregados, exceto a cozinheira e sua filha, receberam o dia de
folga. Nada de Lucy e Adolf correndo pela mesa seguidos pela babá incompetente.
Melhor assim. Teria mais tempo na companhia da doce Melanie e de seus gemidos.
Sorriu imaginando o que faria com a filha da cozinheira depois da sesta. Ou...
Talvez pudesse pular o cochilo. Quem sabe? Pensaria nisso enquanto se fartaria
do banquete.
Enquanto comia, sua mente
era preenchida pelos planos que tinha com a jovem moça de cabelos loiros
rebeldes e corpo pequeno. Nada de cochilo. Comeria a torta o mais rápido
possível para então atacar a verdadeira sobremesa.
Foi então que sentiu o
cheiro da deliciosa torta de maçã. Com a ajuda de um breve cálculo, tomou a
difícil decisão. Saborearia a sobremesa lentamente. Melanie seria logo depois,
também lentamente. Haveria tempo de sobra para as duas coisas mais desejadas
pelos homens como ele. Com a colher de prata, cortou um pequeno pedaço da
torta e o levou até a boca.
- O que foi? - Os olhos
azuis de linhagem nobre olhou a cozinheira que o observava. - Perdeu alguma
coisa aqui? - A voz rude e grave denunciava seu descontentamento. O sorriso
discreto nos lábios da mulher robusta lhe irritava profundamente.
Eleanor, a cozinheira,
baixou os olhos, mas o sorriso ainda estava em seus lábios. Seria difícil não
mantê-lo quando se chegava tão perto de um tão sonhado objetivo. Por quantos
anos havia esperado pelo momento da doce vingança? Havia passado incontáveis
noites abraçando a filha enquanto a garota chorava por terem roubado sua
inocência e castidade. Nada mais justo que os filhos dele chorarem por sua
ausência.
Eleanor percebeu quando tudo
começou a desmoronar para seu nobre patrão. Ela viu os olhos azuis se
arregalarem e então tudo veio em câmera lenta. Uma sequência de fatos que ela
reviraria na memória pelo resto da sua longa vida, como um orgasmo prolongado
ao longo do tempo. As mãos bem cuidadas foram até a garganta como se quisessem
arrancar o próprio esôfago. "Haverá ardência" alertou-lhe a
conhecedora de ervas, "Uma ardência insuportável. Ela durará por uns
dez minutos até que ele finalmente morra". E era exatamente isso que a
cozinheira queria. Que o veneno o consumisse de dentro para fora numa tortura
alucinante. Ele pagaria caro pelo que fizera à sua menina.
E assim foi até que o corpo
despencou da cadeira ao chão. Os olhos abertos e o rosto numa careta de dor que
lhe faria ter pesadelos se não fosse ele o culpado pela sua desgraça. O veneno
que ela lhe dera era sim cruel, mas não tão cruel quanto o veneno que aquele
ser desprezível injetara no útero da sua criança.
Os olhos de Eleanor se
ergueram e o sorriso aumentou enquanto seus pés lhe levavam para fora da sala
de jantar, de queixo erguido. Nunca havia pensado que a vingança seria tão
doce. Mas seu patrão também nunca havia imaginado que o líquido que bebia por
entre as pernas da sua menina ficaria tão amargo.
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