Incômodo

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Incômodo


Fez tão pouco que incomodou, feriu, machucou. Foi contra tudo e todos, cantou heavy metal na igreja e gritou na biblioteca. Disseram que estava errado, que não era normal e que não tinha motivos. Ele era intrometido, presunçoso e achava que tinha algum direito de discordar. Arrogante. Não sabia de nada, era um inútil, incapaz de fazer qualquer coisa importante.

Tão pouco fez que mobilizou, fez acontecer. Não valia nada, não falava nada com nada e não sabia do que falava. Suas palavras eram tão sem importância que machucavam. Ele remexeu a ferida, cutucou a onça com vara curta. Foi audacioso, corajoso. Criticou a ditadura, babou ovo de miseráveis e confiou em si mesmo ao ponto de saber que, quanto mais era condenado, mais fundo havia atingido. Afinal, ninguém se ofende pelo que não é verdade e nenhum inocente teme um governo justo. E não há a possibilidade de um governo justo liderado por injustos.

Ele fez tão pouco; era tão sem importância que foi condenado a viver recluso para não espalhar suas ideias insignificantes. Tão insignificantes que foi único que mudou o que julgavam imutável.

Ele não valia nada. Era um zero à esquerda. E fez uma grande diferença.

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