Eles que viraram estrelas

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Eles que viraram estrelas


Criança amada, vinda de uma família feliz que tinha uma casa perfeita. À noite, sonhava em ser professora. Essa era a vida de Marie Smith. Com apenas sete anos de idade, a pequena menina loira de olhos azuis alegres sabia o que era felicidade. Mas veio o menino Jesus e levou seu pai com ele. Amaldiçoando os céus, Marie ouviu de sua mãe que seu amado pai estava lá em cima, no céu escuro. Ele havia virado uma estrela.

Adolescente recatada, número um da classe, orgulho da mãe e do falecido pai. Talvez houvessem alguns meninos querendo mais que amizade, talvez as amigas fossem mais invejosas do que pareciam. Talvez sua vida não fosse tão perfeita, mas era o que parecia. Até que sua mãe se foi. E foi quando pensou que nunca mais pudesse voltar a sorrir. Amaldiçoando os inúteis médicos, se lembrou de olhar para o céu todas as noites lembrando da voz fraca da mulher moribunda quando dizia que viraria uma estrela.

 Moça feliz, casamento perfeito, marido adorável e filhos maravilhosos. Essa era a vida da jovem Marie Lunesstein. Casada há três anos, seu jardim era impecável e seu coração, enorme. Quem presenciara as desgraças da sua juventude, nunca imaginaria que o doce sorriso reapareceria. E foi pelos filhos que suportou novamente a dor. E contou-lhes, assim como sua mãe havia feito uma vez, que o pai amado havia virado estrela.

Mãe batalhadora que venceu o mundo inteiro pelos filhos que criou sozinha. Viúva mais forte do que aparentava, Marie surpreendeu todos ao continuar de cabeça erguida depois de tantas desgraças. Talvez ela fosse mais feliz do que era na juventude agora que tinha dois motivos pelos quais viver. Dois jovens maravilhosos. Quando os olhava sentia tanto orgulho que lágrimas lhe inundavam os olhos. Então veio a guerra e lhe tirou Edgard e as pernas de Joseph. Talvez pudesse ser pior. Talvez pudesse ser melhor. Pouco se via do sorriso que costumava inundar a pequena casa onde morava com o único filho que restou, cada um ao seu modo, despedaçados. Olhava as estrelas e amaldiçoava os céus por lhe tirar quase tudo o que era importante. Talvez Edgard estivesse lá em cima. Melhor que aqui embaixo.

Ainda lhe restava Joseph. E era por isso que não desabara. Ele precisava de cuidados e da sua ajuda. Olhando seu passado, não conseguia imaginar como um dia fora capaz de sorrir. E então veio a dor, a mente traiçoeira e a guerra que nenhum ser deveria presenciar. Sem superar, Joseph deixou-lhe uma carta singela onde se despedia por não conseguir mais conviver com as próprias lembranças. Olhando os céus, Marie lembrou-se de todos que um dia amara e desejou que tivessem mesmo virado estrelas. Não poderiam simplesmente deixar de existir. Eles tinham que ter virado estrela. E, talvez, ela também se tornasse uma.

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