De joelhos no chão

terça-feira, 24 de novembro de 2015

De joelhos no chão


Pergunto-me porque transformaram a religião em pecado. Pergunto-me quem teve a audácia de falar em nome de Jesus. Pergunto-me quem foi que começou com a insensatez de duvidar de Deus.

Os olhos crentes encaram a figura despida na cruz. Uma lágrima escorre enquanto seus ouvidos captam atentamente cada palavra do pastor. O rabino entoa a cantiga e algo em seu peito se parte. Porque ele pode sim ser uma pessoa melhor.

A bíblia em seu colo é aberta e suas mãos passeiam pelos versículos da toráh. Bem feitas, unhas grandes, dedos enrugados, cutículas aparadas, nós calejados. Na verdade, não importa a idade, nunca é tarde demais para acreditar.

Seus ouvidos palpitam no mesmo ritmo do coração da multidão. A reunião de tantas pessoas tem um efeito avassalador, devastador. Tudo o que era ruim se quebra. Toda a ganância e arrogância vão embora porque Ele disse que tens de ser humilde e sua posição, de joelhos no chão, explicita tamanha rendição. Porque você veio do pó. E ao pó voltará. Porque você não é diferente de ninguém. Seu dinheiro não te dá mais humanidade e seu carro não te dá mais merecimento. E, principalmente, nada disso garante seu lugar no céu.

Os pelos do braço se arrepiam, os gritos do pastor anunciam uma verdade dura. Humano é o que você é. E nada mais que isso. Pecador. Que merece absolvição como qualquer outro. Que merece ser julgado no dia do juízo final. Que tem seu lugar guardado no paraíso.

Mas não é por Ele que você vai ser alguém melhor. Não é porque está escrito “não matarás” nas tábuas de Moisés que você não vai matar. É porque, no fundo, você sabe que não é certo. Não é simplesmente porque o pastor mandou. É porque seu coração se sente bem assim. Não é para chegar ao paraíso, é por ter fé de que, um dia, tudo vai importar e ser tirado a limpo.

Pergunto-me quem foi que subestimou o poder da fé. Pergunto-me quem profanou o ato de ajoelhar-se e agradecer. Pura e simplesmente agradecer. Porque não há ninguém que não tenha nada ao ponto de não ser grato. E não há ninguém que seja tão bom que não possa ser melhor. Porque todos nós podemos sim ser pessoas melhores e a religião pode sim com isso contribuir. Porque, no fim, acreditar que existe alguém cuidando de cada um de nós é reconfortante. E nos faz capazes de amar quem poderíamos odiar.

Porque O Senhor é meu pastor e nada me faltará.

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