O pote de ouro
Às vezes, acontece de duas
pessoas não estarem na mesma sintonia. Na verdade, em noventa por cento dos
casos elas não encontram um timbre comum. Como um violão desafinado, seus tons
não combinam e ajustar-se um ao outro não é algo simples de se fazer. É como
uma formiga que tenta ser abelha, mas não tem a característica fundamental para
se sentir em casa.
Era o que acontecia com
eles. Cada um, o perfeito oposto do outro. Cada um deles com suas
individualidades que queriam dividir. Ela, com ele. Ele, com todas.
Não que os amores múltiplos
dele já não fossem conhecidos do mundo. Não que suas idas e só idas não fossem
comentadas pelas bocas, maldosas ou não. Não que o constante ar inconstante do
seu sorriso não declarasse a todo o mundo que ele não era de ninguém. E não que
ela já não houvesse sido avisada.
Ele deixou bem claro o que
não queria. Não queria apelidos carinhosos, não queria filmes sábado à tarde e
muito menos dormir de conchinha. Só uma noite, sem compromisso. Se fosse bom
pros dois, poderiam repetir, mas não pelo resto da vida.
Só que, mesmo com todos os
avisos e barreiras, ela fez o que qualquer mulher em seu lugar faria e se
apaixonou. Como se funcionasse à base da psicologia inversa, seu coração teimou
em acreditar que poderia mudar uma alma corrompida. Queria passar as tardes de
sábado vendo filmes e queria encontrar o pote de ouro no fim do arco íris dos
reflexos da luz dos olhos dele.
Como o previsível manda, ele
cansou. E se foi. Para nunca mais voltar. E ela achou um absurdo ele nem olhar
para trás enquanto que, para ele, partir era a coisa mais natural do mundo.
Enquanto ele se diverte com as outras, ela procura o arco íris no meio da
poeira que ele deixou.
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