Algum romance qualquer - I
Existem
momentos na vida em que nós simplesmente esquecemos onde estamos e fazemos uma
pequena viagem ao passado. Acontecimentos que nos marcaram, que nem
tiveram tanta importância, mas que nos vêm à mente de uma hora para a outra. O
que eu revivo agora foi um dos mais importantes da minha vida. Eu só não sabia
disso na época.
--
As
luzes fortes e a fumaça artificial ofuscavam minha visão, mas, entre uma e
outra, eu conseguia ver uma silhueta se mexendo no meio da pista de dança. Mais
por instinto que por realmente enxergar alguma coisa, eu sabia que era ela.
Lana, com seu corpo perfeito e sua alma calada, me enfeitiçavam há tempo
demais, mesmo à distância.
Era
verdade que já nos conhecíamos há um bom tempo, porém, nós dois nunca havíamos
tido nenhum tipo de contato pessoal que fosse mais agradável que a implicância.
Até agora. Não que a implicância que existia fosse ruim. Na verdade, se não
fosse por ela, não haveria muita coisa. Desde o primeiro momento a gente havia
visto aquele raio que vai de um para o outro, tínhamos aquela percepção de que
provocar seria melhor que conversar. Algumas pessoas simplesmente despertam o
pior em mim. Lana sempre foi uma delas.
–
Lana... - Ela se virou para mim e sorriu. O sorriso de escárnio tão
característico dela e tão somente meu. Nunca a vi sorrir daquele jeito
debochado, como quem sabe demais, para mais ninguém.
–
George... - Eu comecei a dizer algo, mas ela foi mais rápida e me surpreendeu,
quase lendo meus pensamentos: - Sabe que não seria só por uma noite, não é? -
Eu já conseguia imaginar as pessoas jogando na nossa cara que ódio e amor eram
irmãos gêmeos. Viviam lado a lado, páreo a páreo. E, é claro, que eles
avisaram.
–
Sei. - Então ela pensava o mesmo que eu. Sentia o mesmo que eu. Existia uma
certa tensão sexual entre nós. Medrosos que somos, disfarçamos, ignoramos esse
fogo com as brigas sem sentido algum que sempre tínhamos. Mas nada dura para
sempre e o instinto animal, querendo ou não, sempre vence.
--
–
No que está pensando? - Seus braços envolveram meu pescoço por cima do encosto
do sofá e eu estava de volta ao hoje, ao agora, ao que realmente importava.
–
Se eu dissesse, você não acreditaria... - Sorri e levantei minha cabeça até ver
seu rosto por cima do meu e de cabeça para baixo. Ela ainda era dona dos olhos
mais escuros e belos que eu já tinha visto, da boca mais saborosa que eu já
tinha provado e do toque mais ardente que eu já tinha sentido.
–
Por que não me faz acreditar, então. - O sussurro veio seguido de um beijo na
testa. Suas mãos desceram e passearam por baixo da gola da minha camisa.
Um
gemido me escapou por entre os lábios e eu me inclinei mais no sofá, trazendo
sua boca para a minha. Suas mãos passeavam pelo meu peito enquanto eu
aprofundava o beijo. Aquele ângulo era muito interessante. Agora eu entendia o
motivo do homem aranha ter ficado tão estupefato depois do beijo de cabeça para
baixo.
–
Então... - Lana se afastou cedo demais e colocou as mãos em meus ombros me
mantendo na mesma posição.
–
O que? - Franzi o cenho. Eu conseguia ver meu próprio reflexo em seus olhos
escuros.
–
Não vai me dizer no que está pensando? - Suas sobrancelhas se ergueram e eu
sorri.
–
Depois. - Respondi e a puxei novamente para mim. Dessa vez ela não escaparia. -
Nossos lábios se encontraram novamente e nossas línguas iniciaram uma batalha
por espaço cada vez mais intensa.
Antes
de Lana, o sexo era algo completamente sem sentimentos e... Superficial. Era
prazeroso, é claro, mas, com Lana, tudo mudou. Seu prazer se tornou o meu, sua
dor se tornou a minha. Amar alguém ao ponto de sofrer por ela é insensato. Que
eu seja louco, então. Que sua vida se torne a minha, que seus beijos me
sufoquem e que eu me afogue em seus braços. Algumas pessoas têm o poder de
despertar tudo o que há de bom em mim. Lana é esse tipo de mulher.
Desde
o dia na boate eu me vejo pensando nela o tempo inteiro. Estava certa quando
disse que não seria só por uma noite. Seria por muito mais. Dois anos até agora
e, eu esperava, por muitos e muitos mais.
Ouvi
dizer uma vez que, quando a gente ama, simplesmente ama. Essa seria, na minha
opinião, a melhor explicação para o amor. Vaga, é verdade, mas, para algo tão
inexplicável, seria o ideal. Por que motivos mais eu me encontraria
completamente enfeitiçado por uma mulher que me tirava do sério e que me
irritava?
–
Pensativo de novo? - Olhei para baixo e lá estava minha deusa sorrindo. Seu
semblante cansado repousado em meu peito ainda tinha um vestígio de energia nos
olhos negros.
–
Uhuum. - Levei minha mão esquerda aos seus cabelos negros e enterrei meus dedos
naquela maciez negra observando seus olhos se fecharem e seus lábios se
entreabrirem num gemido satisfeito. - Eu me lembrei daquele dia na boate. Há
dois anos.
–
Não acha que está pensando demais ultimamente? - Uma sobrancelha negra se
ergueu. - Pensei que já tivéssemos resolvido essa questão. Ou já está
satisfeito?
–
Tem razão. Já resolvemos. - Eu disse e me ergui ficando por cima dela. - E eu
estou longe de ficar satisfeito. - Nossos lábios se uniram novamente.
...Há
dois anos...
A
luz do sol banhava seu corpo bronzeado no meio de lençóis claros. Seu rosto
angelical repousava em meu peito. Ela estava certa. Nunca poderia ser só por
uma noite.
–
Lana? - Chamei esperando realmente que ela estivesse acordada.
–
Huum... - Sorri e comecei a passar um dedo pelas costas descobertas.
–
Uma só noite nunca será o suficiente...
–
E você duvidou?
–
Não de verdade.
–
Mas existia uma fraca esperança. - Ela me olhou e sorriu com uma sobrancelha
erguida.
–
É. - Suspirei.
–
Então vamos fazer um trato, George. - Ela se sentou e eu me distraí olhando
seus fartos seios descobertos. - George? - Ela os cobriu com o lençol e meus
olhos se encontraram com o profundo lago negro que eram os dela.
–
Sim?
–
Eu proponho um acordo. Continuamos com isso até que seja o bastante para um dos
dois.
–
Depende. – Entrecerrei os olhos. - Foi o suficiente para você?
–
Não. - Lana ficou pensativa por uns instantes e então disse: - Está longe de
ser.
–
Então eu aceito.
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