Algum romance qualquer - I

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Algum romance qualquer - I


Existem momentos na vida em que nós simplesmente esquecemos onde estamos e fazemos uma pequena viagem ao passado. Acontecimentos que nos marcaram, que nem tiveram tanta importância, mas que nos vêm à mente de uma hora para a outra. O que eu revivo agora foi um dos mais importantes da minha vida. Eu só não sabia disso na época.

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As luzes fortes e a fumaça artificial ofuscavam minha visão, mas, entre uma e outra, eu conseguia ver uma silhueta se mexendo no meio da pista de dança. Mais por instinto que por realmente enxergar alguma coisa, eu sabia que era ela. Lana, com seu corpo perfeito e sua alma calada, me enfeitiçavam há tempo demais, mesmo à distância.

Era verdade que já nos conhecíamos há um bom tempo, porém, nós dois nunca havíamos tido nenhum tipo de contato pessoal que fosse mais agradável que a implicância. Até agora. Não que a implicância que existia fosse ruim. Na verdade, se não fosse por ela, não haveria muita coisa. Desde o primeiro momento a gente havia visto aquele raio que vai de um para o outro, tínhamos aquela percepção de que provocar seria melhor que conversar. Algumas pessoas simplesmente despertam o pior em mim. Lana sempre foi uma delas.

– Lana... - Ela se virou para mim e sorriu. O sorriso de escárnio tão característico dela e tão somente meu. Nunca a vi sorrir daquele jeito debochado, como quem sabe demais, para mais ninguém.

– George... - Eu comecei a dizer algo, mas ela foi mais rápida e me surpreendeu, quase lendo meus pensamentos: - Sabe que não seria só por uma noite, não é? - Eu já conseguia imaginar as pessoas jogando na nossa cara que ódio e amor eram irmãos gêmeos. Viviam lado a lado, páreo a páreo. E, é claro, que eles avisaram.

– Sei. - Então ela pensava o mesmo que eu. Sentia o mesmo que eu. Existia uma certa tensão sexual entre nós. Medrosos que somos, disfarçamos, ignoramos esse fogo com as brigas sem sentido algum que sempre tínhamos. Mas nada dura para sempre e o instinto animal, querendo ou não, sempre vence.

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– No que está pensando? - Seus braços envolveram meu pescoço por cima do encosto do sofá e eu estava de volta ao hoje, ao agora, ao que realmente importava.

– Se eu dissesse, você não acreditaria... - Sorri e levantei minha cabeça até ver seu rosto por cima do meu e de cabeça para baixo. Ela ainda era dona dos olhos mais escuros e belos que eu já tinha visto, da boca mais saborosa que eu já tinha provado e do toque mais ardente que eu já tinha sentido.

– Por que não me faz acreditar, então. - O sussurro veio seguido de um beijo na testa. Suas mãos desceram e passearam por baixo da gola da minha camisa.

Um gemido me escapou por entre os lábios e eu me inclinei mais no sofá, trazendo sua boca para a minha. Suas mãos passeavam pelo meu peito enquanto eu aprofundava o beijo. Aquele ângulo era muito interessante. Agora eu entendia o motivo do homem aranha ter ficado tão estupefato depois do beijo de cabeça para baixo.

– Então... - Lana se afastou cedo demais e colocou as mãos em meus ombros me mantendo na mesma posição.

– O que? - Franzi o cenho. Eu conseguia ver meu próprio reflexo em seus olhos escuros.

– Não vai me dizer no que está pensando? - Suas sobrancelhas se ergueram e eu sorri.
– Depois. - Respondi e a puxei novamente para mim. Dessa vez ela não escaparia. - Nossos lábios se encontraram novamente e nossas línguas iniciaram uma batalha por espaço cada vez mais intensa.

Antes de Lana, o sexo era algo completamente sem sentimentos e... Superficial. Era prazeroso, é claro, mas, com Lana, tudo mudou. Seu prazer se tornou o meu, sua dor se tornou a minha. Amar alguém ao ponto de sofrer por ela é insensato. Que eu seja louco, então. Que sua vida se torne a minha, que seus beijos me sufoquem e que eu me afogue em seus braços. Algumas pessoas têm o poder de despertar tudo o que há de bom em mim. Lana é esse tipo de mulher.

Desde o dia na boate eu me vejo pensando nela o tempo inteiro. Estava certa quando disse que não seria só por uma noite. Seria por muito mais. Dois anos até agora e, eu esperava, por muitos e muitos mais.

Ouvi dizer uma vez que, quando a gente ama, simplesmente ama. Essa seria, na minha opinião, a melhor explicação para o amor. Vaga, é verdade, mas, para algo tão inexplicável, seria o ideal. Por que motivos mais eu me encontraria completamente enfeitiçado por uma mulher que me tirava do sério e que me irritava?

– Pensativo de novo? - Olhei para baixo e lá estava minha deusa sorrindo. Seu semblante cansado repousado em meu peito ainda tinha um vestígio de energia nos olhos negros.

– Uhuum. - Levei minha mão esquerda aos seus cabelos negros e enterrei meus dedos naquela maciez negra observando seus olhos se fecharem e seus lábios se entreabrirem num gemido satisfeito. - Eu me lembrei daquele dia na boate. Há dois anos.

– Não acha que está pensando demais ultimamente? - Uma sobrancelha negra se ergueu. - Pensei que já tivéssemos resolvido essa questão. Ou já está satisfeito?

– Tem razão. Já resolvemos. - Eu disse e me ergui ficando por cima dela. - E eu estou longe de ficar satisfeito. - Nossos lábios se uniram novamente.

...Há dois anos...

A luz do sol banhava seu corpo bronzeado no meio de lençóis claros. Seu rosto angelical repousava em meu peito. Ela estava certa. Nunca poderia ser só por uma noite.

– Lana? - Chamei esperando realmente que ela estivesse acordada.

– Huum... - Sorri e comecei a passar um dedo pelas costas descobertas.

– Uma só noite nunca será o suficiente...

– E você duvidou?

– Não de verdade.

– Mas existia uma fraca esperança. - Ela me olhou e sorriu com uma sobrancelha erguida.

– É. - Suspirei.

– Então vamos fazer um trato, George. - Ela se sentou e eu me distraí olhando seus fartos seios descobertos. - George? - Ela os cobriu com o lençol e meus olhos se encontraram com o profundo lago negro que eram os dela.

– Sim?

– Eu proponho um acordo. Continuamos com isso até que seja o bastante para um dos dois.

– Depende. – Entrecerrei os olhos. - Foi o suficiente para você?

– Não. - Lana ficou pensativa por uns instantes e então disse: - Está longe de ser.

– Então eu aceito.


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