Mais uma gaveta de aço
Contando os passos, as
horas, os corpos. Tentando ignorar o frio e o cheiro de formol que vem das
gavetas de aço. Coração acelerado, pulso desgovernado e um aperto na boca do
estômago que gela meu corpo inteiro. Já não sei se quero mesmo encontrá-lo
aqui, para cessar a agonia infinita, ou se um necrotério seria o último lugar
onde eu quereria te encarar. Imagino seus olhos fechados, os lábios roxos e os
cabelos sem brilho, emoldurados pelo marfim eterno da morte e pela maca cinza e
gélida, coberto pelo lençol branco com cheiro ruim.
Mais rostos desconhecidos,
mais corpos sem identificação, mais uma centelha de esperança brotando em meu
coração. Mais um lugar onde seu corpo não está, mais algumas pessoas que
continuarão sem identificação. Entretanto, apesar de todas as histórias que
todos os cadáveres poderiam me contar, uma só me importa.
E eu ainda não a encontrei.
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