Mais uma gaveta de aço

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Mais uma gaveta de aço


Contando os passos, as horas, os corpos. Tentando ignorar o frio e o cheiro de formol que vem das gavetas de aço. Coração acelerado, pulso desgovernado e um aperto na boca do estômago que gela meu corpo inteiro. Já não sei se quero mesmo encontrá-lo aqui, para cessar a agonia infinita, ou se um necrotério seria o último lugar onde eu quereria te encarar. Imagino seus olhos fechados, os lábios roxos e os cabelos sem brilho, emoldurados pelo marfim eterno da morte e pela maca cinza e gélida, coberto pelo lençol branco com cheiro ruim.

Mais rostos desconhecidos, mais corpos sem identificação, mais uma centelha de esperança brotando em meu coração. Mais um lugar onde seu corpo não está, mais algumas pessoas que continuarão sem identificação. Entretanto, apesar de todas as histórias que todos os cadáveres poderiam me contar, uma só me importa.

E eu ainda não a encontrei.

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