Só mais uma coisa não explicada

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Só mais uma coisa não explicada


Um dia sem aula. E na sexta-feira! Poderia ter algo melhor para um estudante do primeiro período? Com a sexta livre, você teria tempo de sobra para as festas, cinema, bar e deus sabe-se lá mais o quê calouros gostam de fazer em seu tempo livre.

O problema é que nada é perfeito. E a merda começa quando você vê uma matéria a menos no quadro de horários. Mas... Como assim? Então você pega o comprovante de matrícula pela décima oitava vez e confere se tem mesmo sete disciplinas. E tem. Por que diabos pensou que seria diferente? Na ânsia pela faculdade, você leu aquele maldito papel umas quinhentas vezes por semana e decorou cada linha. Certa de que sabe contar, afinal, passou os últimos catorze anos da sua vida aprendendo a sequência numérica do um ao nove, conclui que o erro é da instituição. Incompetentes!

Então lá vai você até a secretaria/central-do-aluno/inferno. É claro que, no primeiro período, a coisa mais surreal e inebriante que existe é pegar uma senha, sentar numa das cadeiras acolchoadas e esperar uma vida inteira para ser atendido. Nos períodos seguintes você percebe que era idiota e não sabia, mas ali, naquele momento, você é a pessoa mais feliz e a aluna mais aplicada do mundo simplesmente por fazer papel de idiota. Na verdade, ao longo do curso inteiro, a única coisa que você faz direito é papel de idiota. Mas isso não vem ao caso agora.

- Boa noite.

- Boa noite. - Um sorriso completamente retardado acompanha o rosto de um retardado, certo? E adivinha quem é o retardado. Sim. Você. Parabéns pelo auto conhecimento. E, um conselho de quem já foi (talvez ainda seja) uma retardada: aceita que dói menos.

- Em que posso ajudar?

- Ah sim! É que... - Abre a bolsa/mochila/coisa-que-guarda-coisas-inúteis, tira um mundo de papéis, comprovantes, quadro de horários, planos de aula, calendários e tudo mais. - Aqui diz que eu tenho sete disciplinas. - O "aqui" tem que ser o maior contrato de matrícula do mundo e a atendente, pacientemente ou não, espera que você encontre em que página está o negócio. - E aqui... - Mais uma pausa. Onde enfiou o maldito quadro de horários? Não acredita que colocou de novo na bolsa! Um sorriso amarelo, o barulho do zíper se abrindo (novamente), mais papéis remexidos e... Voilá! - Só tem aulas para seis das matérias.

A atendente permanece calada. Você também. Ela te olha e você acha aquele momento, no mínimo, estranho.

- Você quer mudar alguma matéria? - Ela, finalmente, fala algo. E você, infelizmente, acha que ela enlouqueceu. Ou que é incompetente por não entender sua dúvida idiota.

- Mudar? Não! É que falta uma matéria. Aí eu queria saber se o horário está errado ou se cancelaram a disciplina ou...

- Ah! Não, meu amor. Não é nada disso. - A mulher ri e você tenta acompanhar, mas não entende a piada. - É que a matéria que “falta”, metodologia científica, é virtual.

- Ah... - Você não engana ninguém com essa expressão completamente perdida. Muito menos a atendente.

- O material é postado no portal e você vem à faculdade apenas para fazer as provas.

- Aah... Sim. - Começa a se levantar, mas outras dúvidas surgem. - E onde são essas provas?

- Na sua sala. No horário da aula que é vaga.

- E quando são?

- Tudo está no portal, no plano de ensino que seu professor postou. Boa noite. - Bela dispensa você levou, ãhn?

- Sim... Obrigada.

- Por nada.

“Por nada mesmo”, você, muito provavelmente, pensou.

Vamos, criatura, admita que você entendeu nada do que foi “explicado” e que só saiu daquele lugar para evitar mais constrangimento. Como entrar no portal é a incógnita do ano e você nem fez questão de perguntar. O jeito é enfrentar o problema quando ele chegar, erguer a cabeça e andar, afinal, a pose de "dona do pedaço" deve continuar. Você não entende nada de nada, mas vai continuar fingindo entender porque... Bem, porque sim.

0 comentários :

Postar um comentário