Mesmas conclusões
A confusão toda começou
quando ele me ligou e a primeira coisa que disse ao ouvir minha voz foi: “Estou
amando”. Franzi as sobrancelhas e pensei: “Mas... E?” Só depois eu parei para
refletir sobre o assunto. Ele estava amando. Não apaixonado ou encantado. Amando.
Isso sim era algo sobre o
qual teríamos que pensar e discutir no único lugar onde conversa filosófica não
parece filosofia barata de bar: juntamos todos os amigos de sempre e fomos para
o bar.
Entre goles de cerveja e
torpes flertes (de apenas um de nós) com a mesa ao lado, eis que sai o seguinte
comentário:
- Então você finalmente
conseguiu se enforcar, Oswaldo.
Os outros riram, mas eu me
peguei pensando: Não seria o amor uma forma de suicídio? Não seria esse maldito
belo sentimento um jeito insano de buscar em outra pessoa a sua própria ruína?
- Talvez... - Oswaldo
respondeu a pergunta de Murilo. - Mas agora eu sei como é. Entendo o que tantos
poetas, psicanalistas e filósofos anseiam por explicar.
- E consegue explicar? -
Luiz, o mais velho e único casado dentre nós, perguntou.
- Não... - Os olhos de
Oswaldo pareciam perdidos, deslocados, assustados. Acredito que eles refletiam,
naquele momento, seu coração meio distante do mundo real e de qualquer
pensamento racional.
Luiz sorriu do jeito como
sempre sorria quando estava mais seguro de si do que nunca, o que acontecia com
muita frequência, por sinal. Eram claros seus pensamentos naquele momento.
Então era mesmo verdade... Oswaldo estava amando. Não apaixonado ou encantado.
Amando.
Mas o que, perguntei em
certo momento de embriaguez, seria o amor?
Todos os cinco me olharam
com cara de completos panacas. A resposta era cristalina: ninguém sabia.
- Algo bom. - Luiz, o mais
romântico, disse. - Que faz bem à alma. Algo que nos completa.
- Apenas desejo de nos
sentirmos completos. - Otávio era o mais incrédulo de todos. Nunca acreditava
totalmente em nada.
- Perigoso. O amor é
perigoso. - Murilo parou de flertar com a mulher da outra mesa e voltou sua atenção
ao copo de cerveja e aos próprios pensamentos embriagados. - Ele te deixa...
- Perdido. - Oswaldo
conseguiu a atenção dos cinco. - Amedrontado e sem saber que rumo tomar.
- Eu acredito... - Comecei,
mas já havia visto a expressão deles. - É sério...
- Sério... - Murilo disse. -
Lá vem ele...
Eu não poderia discordar
quando era verdade que sempre me empolgava quando se tratava de uma discussão
que ia para o lado filosófico... Culpa da faculdade de filosofia, oras. E da
cerveja, claro.
- Tanto faz. - Eu disse, já
me irritando. - Eu acredito que o amor seja algo bom e ruim. Depende do ponto
de vista.
- Faz sentido... - Luiz
disse. - Se for correspondido é bom.
- Também. Mas o que eu quis
dizer foi: - Continuei. - O amor é ruim no sentido de dependência. Depender de
outra pessoa para sobreviver... Da felicidade do outro para ser feliz... - Eles
ficaram pensativos e então, aos poucos, foram concordando do jeito que os
bêbados concordam com outros bêbados. - E é bom quando é correspondido, é
claro, mas, mais do que isso, ser amado é bom. O amor te deixa mais feliz...
Encontrar o amor em outra pessoa é como se pudéssemos, finalmente, nos sentir
completos e não só uma metade. Se encontrar no outro é algo que muda
completamente a nossa concepção de realidade. O amor faz com que nossos
próprios defeitos sejam superados e os defeitos dos outros, aliados aos nossos,
se transformem em qualidade.
Alguns fizeram mais
comentários e, por fim, chegamos à mesma conclusão de sempre: Tudo depende do
ponto de vista. Oswaldo, ao ver o lado bom disso, pareceu mais otimista, mas
ainda meio perdidamente apaixonado.
A questão que ficou no final
é que nada do que discutimos explicou o que é o amor. Cada um foi para sua
casa. Do mesmo modo de sempre, como sempre vem acontecido nos últimos quatro
anos. Mas, naquele dia, todos tinham algo para brincar em sua mente a noite
toda. Tirar a próprias conclusões ou ficarem com mais dúvidas ainda.
E o amor, acredito eu, é
isso. Algo em que, quanto mais pensamos, mais inexplicável se torna. E quanto
mais tentamos, menos conseguimos fugir dele.
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