Mesmas conclusões

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Mesmas conclusões


A confusão toda começou quando ele me ligou e a primeira coisa que disse ao ouvir minha voz foi: “Estou amando”. Franzi as sobrancelhas e pensei: “Mas... E?” Só depois eu parei para refletir sobre o assunto. Ele estava amando. Não apaixonado ou encantado. Amando.

Isso sim era algo sobre o qual teríamos que pensar e discutir no único lugar onde conversa filosófica não parece filosofia barata de bar: juntamos todos os amigos de sempre e fomos para o bar.

Entre goles de cerveja e torpes flertes (de apenas um de nós) com a mesa ao lado, eis que sai o seguinte comentário:

- Então você finalmente conseguiu se enforcar, Oswaldo.

Os outros riram, mas eu me peguei pensando: Não seria o amor uma forma de suicídio? Não seria esse maldito belo sentimento um jeito insano de buscar em outra pessoa a sua própria ruína?

- Talvez... - Oswaldo respondeu a pergunta de Murilo. - Mas agora eu sei como é. Entendo o que tantos poetas, psicanalistas e filósofos anseiam por explicar.

- E consegue explicar? - Luiz, o mais velho e único casado dentre nós, perguntou.

- Não... - Os olhos de Oswaldo pareciam perdidos, deslocados, assustados. Acredito que eles refletiam, naquele momento, seu coração meio distante do mundo real e de qualquer pensamento racional.

Luiz sorriu do jeito como sempre sorria quando estava mais seguro de si do que nunca, o que acontecia com muita frequência, por sinal. Eram claros seus pensamentos naquele momento. Então era mesmo verdade... Oswaldo estava amando. Não apaixonado ou encantado. Amando.

Mas o que, perguntei em certo momento de embriaguez, seria o amor?

Todos os cinco me olharam com cara de completos panacas. A resposta era cristalina: ninguém sabia.

- Algo bom. - Luiz, o mais romântico, disse. - Que faz bem à alma. Algo que nos completa.

- Apenas desejo de nos sentirmos completos. - Otávio era o mais incrédulo de todos. Nunca acreditava totalmente em nada.

- Perigoso. O amor é perigoso. - Murilo parou de flertar com a mulher da outra mesa e voltou sua atenção ao copo de cerveja e aos próprios pensamentos embriagados. - Ele te deixa...

- Perdido. - Oswaldo conseguiu a atenção dos cinco. - Amedrontado e sem saber que rumo tomar.

- Eu acredito... - Comecei, mas já havia visto a expressão deles. - É sério...

- Sério... - Murilo disse. - Lá vem ele...

Eu não poderia discordar quando era verdade que sempre me empolgava quando se tratava de uma discussão que ia para o lado filosófico... Culpa da faculdade de filosofia, oras. E da cerveja, claro.

- Tanto faz. - Eu disse, já me irritando. - Eu acredito que o amor seja algo bom e ruim. Depende do ponto de vista.

- Faz sentido... - Luiz disse. - Se for correspondido é bom.

- Também. Mas o que eu quis dizer foi: - Continuei. - O amor é ruim no sentido de dependência. Depender de outra pessoa para sobreviver... Da felicidade do outro para ser feliz... - Eles ficaram pensativos e então, aos poucos, foram concordando do jeito que os bêbados concordam com outros bêbados. - E é bom quando é correspondido, é claro, mas, mais do que isso, ser amado é bom. O amor te deixa mais feliz... Encontrar o amor em outra pessoa é como se pudéssemos, finalmente, nos sentir completos e não só uma metade. Se encontrar no outro é algo que muda completamente a nossa concepção de realidade. O amor faz com que nossos próprios defeitos sejam superados e os defeitos dos outros, aliados aos nossos, se transformem em qualidade.

Alguns fizeram mais comentários e, por fim, chegamos à mesma conclusão de sempre: Tudo depende do ponto de vista. Oswaldo, ao ver o lado bom disso, pareceu mais otimista, mas ainda meio perdidamente apaixonado.

A questão que ficou no final é que nada do que discutimos explicou o que é o amor. Cada um foi para sua casa. Do mesmo modo de sempre, como sempre vem acontecido nos últimos quatro anos. Mas, naquele dia, todos tinham algo para brincar em sua mente a noite toda. Tirar a próprias conclusões ou ficarem com mais dúvidas ainda.

E o amor, acredito eu, é isso. Algo em que, quanto mais pensamos, mais inexplicável se torna. E quanto mais tentamos, menos conseguimos fugir dele.

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