Penso em me lavar, mas não tenho tempo
Eu
vejo a escuridão chegando e já me preparo para queimar. Não que eu tenha me
acostumado, é impossível se acostumar com algumas coisas, mas eu já sei que ela
virá, posso sentir.
O
corpo suado em cima do meu ofega alto, quase como um cachorro cansado. Os sons
de carne batendo me enojam, mas não causam efeito algum nele. Enquanto eu luto
contra a ânsia, ele abraça o gozo que está prestes a chegar.
É
uma vida desgraçada essa minha. Pulando de quarto em quarto, mudando de corpo
em corpo, vagando pelas esquinas esperando por alguém disposto a pagar uma
mixaria para me comer.
De
vez em quando eu fico feliz, geralmente quando eu consigo sonhar com algo bom.
O que tem se tornado cada vez mais raro, diga-se de passagem. Quando alguém não
consegue dormir, tem que se contentar em sonhar acordado, mas até isso eles têm
me tirado.
O
desconhecido solta um grunhido e eu sei o que preciso fazer. E faço. Mesmo
minha cabeça estando longe dali. Contorço-me e gemo como se não houvesse outro
lugar onde eu quero estar. Mas há.
Aviso
que o tempo acabou e ele finalmente sai de cima de mim, veste suas roupas, faz
o pagamento. E, é claro, deixa a porta aberta. Penso em me lavar, mas não tenho tempo.
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