Madrugadas, verdades, martelos e crônicas
Numa madrugada dessas, logo depois que meu avô faleceu, fui acometida por uma insônia que pensei ter sido extinta quando comecei a treinar muaythai (vocês ficariam surpresos com a capacidade que a luta tem de me fazer dormir, mas enfim). Três da manhã e lá estava eu, acariciando meu gato (de quatro patas), tentando dormir e pensando na vida.
Depois
de uns 30 minutos nessa lenga-lenga de dorme-não-dorme, resolvi começar a ler
um livro dentre os mais de 300 que tenho na minha estante. Ao contrário da
maioria, este eu nunca li.
Trata-se
de “Tudo o que você não soube”, da
Fernanda Young. Nele, a narradora (que escreve crônicas com uma genialidade
ímpar, por sinal) divaga sobre o pai que está morrendo e sobre tudo o que
aconteceu na vida dela que ele nunca fez questão de saber. É aí que começam as
conjecturas.
A
narradora, assim como eu, teve um pai ausente. A grosso modo, forçando muito a
barra, me identifico com a personagem. É claro que apenas 1% da vida retratada
ali foi semelhante à minha. Na história, a mãe e a avó também foram péssimas e
a narradora foi parar na cadeia por ter tentado matar a própria mãe à
marteladas. Sem falar nas drogas, namorados não aceitos pela família e etc...
É um
livro confuso em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito à lógica.
Ele não segue nenhuma linha do tempo pré-determinada, não tem um enredo, não
possui clímax e os personagens não evoluem.
Então,
Bianca, por que ele merece uma resenha?
Porque
é um dos melhores livros que eu já li.
A
autora consegue escrever uma crônica/carta/diário viciante. Tão viciante que,
quando termina, você fica com vontade de ler de novo enquanto sua cabeça está
povoada de pensamentos.
Porque
é isso que ele nos faz: pensar. Sobre a vida, sobre a morte, sobre nossos
medos, imperfeições, sobre nossos pecados. Numa espiral louca de divagações
você se vê cercado por reflexões que vão desde o ódio por praia até o
feminismo. E, é claro, passa por verdades que a sociedade como um todo tenta
ignorar. E é exatamente isso que a Fernanda Young nos joga na cara.
Talvez
tenha me surpreendido tanto por ser o tipo de crônica que eu sempre quis
escrever e nunca consegui. Achei que esse tipo de coisa teria que ser
verdadeira para ser alcançada. Como extrair líquido da medula óssea, é algo
possível de ser feito só se você tiver uma medula: não dá para ser artificial.
Ao que tudo indica, eu estava enganada.
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