Não é sobre o que é certo ou errado
Não
é questão de ser certo ou errado: isso é juízo de valor de cada um e não
interessa ao Estado se você acha que é errado por causa da igreja ou se acha que
é certo por causa de ideologias que segue. Não é sobre as pessoas concordarem
ou não, isso é uma escolha que ninguém pode fazer por outra pessoa, é um campo
onde qualquer tipo de toque pode causar ferida.
Mas
precisamos falar sobre isso. De um modo geral, de forma fria, puramente
racional, sem juízo de valor, sem julgamento, sem interferência das nossas
crenças. Tendo em mente que a criminalização do aborto não combate o aborto. Só
aumenta o número de mortes.
A
maior parte da população feminina brasileira não tem condições de fazer um
aborto seguro. Não é porque é crime. É porque não tem dinheiro mesmo. Quem tem
condições de pagar vai até o inferno pedir arrego para o capeta. Na pior das
hipóteses, enche o judiciário de recursos. Mas quem não tem...
Ah,
quem não tem dinheiro morre porque faz em casa, com uma vizinha que manja do
assunto. Quem não tem condições de pagar não tem médico limpinho, não tem
equipe de socorro, não tem desfibrilador. Quem não tem dinheiro esteriliza no
fogão, usa pedaço de pau, ferro, o que tiver à mão. Quem não tem dinheiro não
tem monitor que acusa os batimentos cardíacos, não tem nem maca, muito menos
cirurgião.
Quem
não tem dinheiro não vai ao hospital quando tem hemorragia porque corre o risco
de ser linchada. E mesmo se for, se tiver coragem de pedir ajuda, se a mulher
ao menos conseguir chegar ao pronto socorro, ela tem duas alternativas: ou sai
algemada, ou pela porta do necrotério.
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