Brenda
Eu a amava. E ela amava os
pássaros. Amava-os mais que a mim, mais que aos nossos filhos. Brenda passava
dias e noites observando seus hábitos e travando monólogos emocionantes sobre
os “tão fascinantes” seres alados.
Antes de contar - o fim - de
sua história e antes de qualquer tipo de julgamento por parte dos leitores:
quero dizer que não fiz nada sem pensar ou sem levar em conta os desejos da
minha falecida mulher, deixados bem claros em testamento: Brenda queria que eu
a transformasse numa casa de pássaros.
Depois de algum tempo
hesitando, cheguei à conclusão de que não era tão bizarro assim. Que destino
melhor para uma adoradora dos seres com asas? Além disso, eu poderia tê-la bem
perto de mim, como eu sempre quis durante toda a minha vida.
Seguindo os desejos da minha
falecida esposa, que se tornaram também meus próprios desejos, não paguei
serviço funerário ou caixão. Em vez disso, procurei um daqueles profissionais
que empalham animais do jeito antigo, que aproveitavam todo o corpo e não só o
couro. Consegui convencer um deles usando como argumento uma generosa quantia
em dinheiro e dizendo que alguns mamíferos e os humanos têm uma semelhança
muito grande entre si. Logo, não haveria de ser muito difícil. E nem proibido,
já que não havia nenhuma lei proibindo que algum corpo humano fosse empalhado.
Brenda teve os órgãos
internos retirados, a pele recoberta por substâncias que impedem a decomposição
e galhos de árvore implantados em diversas partes do seu corpo. Nas costas, uma
abertura entre as costelas foi feita e o interior da caixa torácica foi
revestido de madeira e folhas. Depois de um tempo, um corvo fez seu ninho lá. A
única parte que ficou intacta foi sua face. Antes era rosada, agora está meio
esverdeada pelo formol.
Os galhos implantados em
seus braços servem de poleiro para várias espécies de pássaro e todos os dias
eu acordo com o som dos seus cantos na janela do meu quarto. Confesso que no
início, toda vez que abria a porta da varanda, me assustava. Tonto de sono,
achava que a minha mulher havia ressuscitado ou voltado para me buscar, coisas
desse tipo.
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