Saudade antecipada
Merda. Deus sabe
quantas vezes já pensei e repensei o assunto. Deus sabe quantas vezes segurei
as lágrimas e quantas vezes sorri quando um medo alucinante tomava conta do meu
peito. Deus sabe quantas vezes eu respirei fundo para impedir meu coração de
disparar e as lágrimas de cair. Só deus sabe. Porque eu mesma não sei.
Já perdi a conta de quantos
momentos embaraçosos passamos naquelas horas em que discutem o futuro."Que
futuro?", me pergunto. Sabemos como vai terminar. Essa sombra do fim paira
sobre nós desde antes do início. Mas somos idiotas, tolos esperançosos que
ignoram o passado e futuro. Tornamo-nos a negação dos meus princípios e
apostamos. Mergulhamos de cabeça num jogo perdido que se chama presente.
- No que tanto pensa? - Me
pergunta e eu rio, amarga. Mais uma lembrança que me dói por dentro.
Quando eu disse ser amarga demais para ser saudável e você retrucou dizendo que
sabe me amansar e que gosta de me fazer doce. Infinitos não existem. Infinitos
perfeitos menos ainda. Como fui acreditar que algo tão bom assim fosse durar?
- Em nós. - Abaixo a cabeça
e respiro fundo mais uma vez. Espero que Deus não esteja realmente contando
esses momentos melancólicos da senhora insensível. Percebe o que me fez? Tenho
que lutar por controle das minhas próprias emoções! Antes de você eu apenas era
fria e pronto. Sem nenhum tipo de esforço ou lágrimas. - Ou na falta de nós no
futuro.
Você ri. Ri! A quem quer
enganar? Ambos percebemos a dor que segue sua gargalhada. Será que seu
sofrimento antecipado é tão grande quanto o meu? Deus queira que sim. Pode me
chamar de egoísta, mas não quero sofrer sozinha.
Por um momento eu pensei que
você fosse dizer alguma coisa. Por um momento eu realmente pensei que ia falar
qualquer besteira para que eu me sentisse melhor e que iríamos fingir que
funcionou. Por um momento eu quis essa cena de filme clichê na minha vida. São
assim que os clichês surgem, oras. Por que não pode acontecer comigo? Mas você
detesta clichês e esse é um dos motivos por estarmos juntos agora. Então, para
acabar com todas as escritoras da Harlequin, você me puxa do sofá e me
abraça. Ficamos um tempo de pé com os braços entrelaçados. Meu rosto teima em
se esconder no seu peito e, mais uma vez, respiro fundo. Merda. Eu não vou
chorar, não vou.
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