Saudade antecipada

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Saudade antecipada


Merda. Deus sabe quantas vezes já pensei e repensei o assunto. Deus sabe quantas vezes segurei as lágrimas e quantas vezes sorri quando um medo alucinante tomava conta do meu peito. Deus sabe quantas vezes eu respirei fundo para impedir meu coração de disparar e as lágrimas de cair. Só deus sabe. Porque eu mesma não sei.

Já perdi a conta de quantos momentos embaraçosos passamos naquelas horas em que discutem o futuro."Que futuro?", me pergunto. Sabemos como vai terminar. Essa sombra do fim paira sobre nós desde antes do início. Mas somos idiotas, tolos esperançosos que ignoram o passado e futuro. Tornamo-nos a negação dos meus princípios e apostamos. Mergulhamos de cabeça num jogo perdido que se chama presente.

- No que tanto pensa? - Me pergunta e eu rio, amarga. Mais uma lembrança que me dói por dentro. Quando eu disse ser amarga demais para ser saudável e você retrucou dizendo que sabe me amansar e que gosta de me fazer doce. Infinitos não existem. Infinitos perfeitos menos ainda. Como fui acreditar que algo tão bom assim fosse durar?

- Em nós. - Abaixo a cabeça e respiro fundo mais uma vez. Espero que Deus não esteja realmente contando esses momentos melancólicos da senhora insensível. Percebe o que me fez? Tenho que lutar por controle das minhas próprias emoções! Antes de você eu apenas era fria e pronto. Sem nenhum tipo de esforço ou lágrimas. - Ou na falta de nós no futuro.

Você ri. Ri! A quem quer enganar? Ambos percebemos a dor que segue sua gargalhada. Será que seu sofrimento antecipado é tão grande quanto o meu? Deus queira que sim. Pode me chamar de egoísta, mas não quero sofrer sozinha.

Por um momento eu pensei que você fosse dizer alguma coisa. Por um momento eu realmente pensei que ia falar qualquer besteira para que eu me sentisse melhor e que iríamos fingir que funcionou. Por um momento eu quis essa cena de filme clichê na minha vida. São assim que os clichês surgem, oras. Por que não pode acontecer comigo? Mas você detesta clichês e esse é um dos motivos por estarmos juntos agora. Então, para acabar com todas as escritoras da Harlequin, você me puxa do sofá e me abraça. Ficamos um tempo de pé com os braços entrelaçados. Meu rosto teima em se esconder no seu peito e, mais uma vez, respiro fundo. Merda. Eu não vou chorar, não vou.

- Eu sei que você me ama. - Eu te empurro e te dou um tapa porque é mais fácil. Filho da puta arrogantemente gostoso. Vou sentir sua falta e isso dói. Dói antes mesmo de vir a saudade. Algumas tentativas frustradas de me abraçar novamente até que eu te jogue no sofá e me jogue ao seu lado também. Seus braços abraçam minha cintura e meu corpo se aninha contra o seu. Nosso olhos se encontram e então os lábios. Posso sentir a tensão em nossos corpos, o medo em nossas almas. Posso sentir a saudade consumindo nosso amor até que não exista mais nada. Mas isso acontecerá no futuro. Não agora. Agora eu quero te beijar.

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