Algum texto qualquer - III

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Algum texto qualquer - III


Quanto tempo faz desde a primeira vez? Desde a sua primeira vez? Cinco anos? Estranho como parece existir mais de um milênio de diferença entre nós.

Eu te ofereci o mundo e mais um pouco. Eu disse “vem comigo” e você preferiu seguir o regime familiar que sua mãe traçou para você e seus irmãos.  A esposa perfeita, o marido que sustenta a casa, filhos que seguirão seus passos. Você tinha paixão demais para isso e me mostrou exatamente como seria capaz de amar se te oferecessem uma única oportunidade. Aqui, nessa mesma sala de aula, há cinco anos.

Me diz uma coisa: como é que você guarda o tesão todo que tem debaixo das saias? Não vamos fingir que não sabemos de nada porque eu nunca fui do tipo que gostei de hipocrisia. Foi exatamente por isso que eu fui embora. Voltando ao assunto: como é que você faz para se controlar? Há cinco anos, quando você era uma virgem puritana, eu até entendia. É fácil fingir que algo não existe quando você nunca provou. Mas, depois que você deixa isso tudo fluir livremente, como aconteceu há cinco anos... Ah, meu amor, não tem como fingir mais nada.

Eu vi seu marido, conversei uns minutos com ele e, acredite em mim, eu sei que ele não é capaz de te proporcionar nem a metade do prazer que eu te dei e que você precisa.  Não me leve à mal, mas você, meu amor, merece bem mais do que “papai e mamãe” todas as sextas-feiras, depois que a criança vai dormir.

Mas ok, ok. Tudo bem. Eu entendo que foi a sua escolha. Você não quis deixar a cidade na minha garupa e agora está casada, com um filho pequeno para cuidar e um marido que não a satisfaz. Preferiu ignorar seus instintos e construir mais uma família exemplar. Essa cidade tem muitas famílias exemplares, não? A sua é só mais uma delas.

E sim, eu a odeio. Odeio esse seu ar maternal e essas suas roupas de mulher decente. Odeio seu marido de classe e o emprego respeitável que ele usa para te sustentar. Odeio seu carro sedã de cinco lugares e o diamante frio que ele pôs no seu dedo. Você sempre combinou mais com o fogo de um rubi. Odeio isso tudo que você criou e conseguiu. Odeio a arrogância que seu queixo erguido me passa, como se a sua vida fosse perfeita e eu fosse só mais um lixo.

Eu odeio o modo como você foi desperdiçada. Mas, depois de cinco anos longe, ainda sou apaixonado pelo modo como você me olha.

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