Como neon

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Como neon


Foi tão rápido quanto um momento de luz ofuscante para então padecer em trevas infindas. Tão real quanto um futuro que, de tão desejado, não fez nada a não ser repousar no abismo dos momentos nunca vividos.

Foi tão intenso; um amor que me tirava o fôlego ao mesmo tempo em que me trazia à vida. Por ele eu morreria; por causa dele eu estava viva. E então a morte.

Aquele minúsculo feixe de luz invadiu minha vida e a fez mais bela. Por aproximadamente nove meses, eu me vi no céu. Bastou apenas um ponto pulsante na tela em preto e branco para que o mundo inteiro me sorrisse. É permitido a algum ser mortal se sentir tão grandioso assim?

E então o frágil cordão que lhe dava a vida também foi seu fim.

Acaso? Destino? Ou só o rumo para o qual todos os fatos me levaram? Resultado de escolhas erradas? Algum ser onipotente que teimou em mostrar que, para morrer, basta existir? Dúvidas, mais dúvidas e só uma certeza: a dor.

Imagino momentos que nunca terei, sorrisos que nunca verei, discussões que ficaram paradas no tempo inerte da minha imaginação. Aquele breve momento em que eu o vi. E sorri. Para então chorar. Por acaso vai acabar?

Um túnel sem fim, a sombra de um sorriso, o fantasma de uma felicidade que nunca terei, mas que bateu à minha porta e chegou bem perto de entrar e tomar conta do meu lar.

Relembrar de quando eu costumava planejar o futuro é inútil e doloroso demais para que meu coração suporte. E lá vamos nós de novo... Meus braços me rodeiam num abraço solitário, desamparado, e deixo com que o rio transborde. De novo. Por quanto tempo durará dessa vez? São apenas lembranças de algo que nunca existiu senão em meus sonhos; são lamentos por uma alma que nunca soube realmente o que é viver. Por alguém que morreu antes mesmo de nascer.

Não suporto abrir a última porta do lado esquerdo do corredor. Não suporto nem olhá-la. O prateado da fechadura delicada me derrota, o azul das paredes faz com que as lágrimas, que já não acreditava mais ter, voltem a escorrer.

A bomba de leite repousa em meu colo enquanto a moça com jaleco branco preenche a ficha de doação. O que não deveria ser doado. O que nunca deveria ir para aquele lugar agonizantemente claro e aberto. O lugar onde eu o perdi.

Susy – deve ser esse o seu nome - etiqueta o leite e me lança um sorriso que carece de alegria. Sabe por tudo o que eu passei. Lembra-se da minha história, mas será que entende minha dor? Não quero que entenda. Pior que ver a piedade, é enxergar o reflexo de mim mesma nos olhos de outra mulher.

Sobrevivo aos olhares caridosos, aos relatos parecidos e aos abraços tão desolados quanto eu. Mas as lembranças... Os sonhos, as expectativas... Estes me matam, me corroem como se um ácido corresse por minhas veias.

Já não resta nada.

Já não tenho nada a perder.

Como neon, "nunca mais" pisca na minha mente. O tempo inteiro. Sem nenhuma outra luz. Sem ninguém.

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