Além do amarelo da luz do sol
Eu vi o amarelo ofuscante da
luz do sol e o azul do céu de um dia quente. Olhei para baixo, sorri para a
proeminência embaixo do meu vestido. Era um menino. Eu já imaginava seus olhos
azuis, seus cabelos tão negros quanto carvão. E poderia imaginar também a
reação de Joshua ao descobrir qual o sexo do nosso bebê.
Verde, branco, amarelo,
rosa. Nunca parei para prestar atenção no que as cores transmitem, mas hoje foi
diferente. Tudo estava mais colorido, mais leve, mais alegre e vivo.
De repente, meu campo de visão mudou completamente. Azul escuro de um lado e laranja vivo do outro. No meio, a luz do sol fazia com que parecesse que eu estava num túnel e que, ironicamente, aquele era o fim. E era. Eu precisava alcançar a luz. O caminhão estava assustadoramente perto, próximo demais de mim.
Meus olhos se arregalaram e minhas mãos fizeram uma débil tentativa de proteger meu ventre. Em um único segundo, tudo o que eu mais queria se transformou no meu pior pesadelo.
Me senti sendo arrastada ao mesmo tempo em que minhas pernas falharam. Mas eu não caí. O ônibus me amparou dolorosamente enquanto a pior dor que eu já senti em toda a minha vida tomou conta de tudo. O caminhão se foi. O laranja brilhante deu lugar ao cinza quente do asfalto e então aquele vermelho escarlate escorreu, quase cremoso. Quase como se lamentasse por tudo.
O céu ficou embaçado enquanto eu pensava no que havia acabado de acontecer. Meu filho... Ele teria olhos azuis e os cabelos tão negros quanto os do pai? Sua voz seria melodiosa ou rouca? Seu sorriso seria meu pedaço do paraíso?
Rostos, cores, sons... Expressões de espanto, dor, pena...
Veio o desconhecido manto negro da morte.
E mais nada.
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