Ausência
Lágrimas frias como a neve escorrem pelo meu
rosto enquanto observo as cordas serem, aos poucos, soltas.
Dizem que, quando uma pessoa está prestes a
morrer, sua vida inteira passa por seus olhos em poucos segundos. Foi assim
para você? Porque é assim para mim. Em todos os momentos da minha vida, você
esteve comigo. Sempre ao meu lado. Não estou morrendo, não fisicamente, mas me
lembro de tudo. O simples ato de lembrar me mata. Me lembrar de cada
palavra, cada gesto, risada, cada lágrima...
A vida tem um jeito perverso de brincar com o
que dizemos. Você me disse uma vez que eu sentiria sua falta se, por acaso, partisse.
Como sempre, estava certa. Mas nomear o sentimento que acompanha sua ausência
como saudade seria subestimar o lugar que ocupa na minha vida. Um substantivo
tão simples carece de intensidade para definir a desolação na qual se encontra
meu coração neste momento.
Sob o sol escaldante, rodeada por pessoas
enlutadas, eu sinto frio. Um frio que só piora enquanto o caixão desce. E dói
saber que você, que é a única que pode aquecer minha alma, nunca mais voltará.
Mas, assim como “saudade”, “dor” também carece
de força para definir o estado decadente no qual se encontra a minha
alma. A lembrança da sua voz, o cheiro do seu perfume no carro, suas
roupas no armário e até sua decoração no quarto me atormentam, me seguem onde
quer que eu vá.
Mas apagar seu cheiro, queimar suas roupas ou
excluir de vez seu gosto não me serviria de consolo e nem diminuiria minha dor.
Consolo... Quem se atreveu a nomear algo
que nem sequer existe? Uma utopia de almas desesperadas por um alívio que nunca
encontrarão. Não há nada que possa apagar as lembranças, enxugar as
lágrimas, esconder sua imagem ou abafar sua voz. Nada que me faça
esquecer. Assim como nenhuma palavra pode definir meu tormento, nada pode
levar a agonia do meu peito. Nenhum “tapa-buraco” ou nova lembrança. Seu silêncio
grita e sua ausência me emudece.
Não ter nada para falar, nada que eu possa
fazer, leva minha mente aos limites da sanidade. Aos poucos, vejo a mim mesma
enlouquecer de saudade. Apenas mais uma que veio de lugar algum indo na direção
de lugar nenhum. Observar a terra cobrir seu corpo faz com que novas
lágrimas escorram e a ferida não cicatrizada, mais uma vez, é cutucada.
Quantas vezes mais eu passarei por isso? Meu
coração vai se cicatrizar ou esse tormento se tornará constante? Por quantas
vezes mais esse buraco em meu peito dará sinal de vida e arderá ao ponto de me
fazer ansiar pela morte? Quem sabe não nos encontremos, então?
Não te ver, não ouvir sua voz me guiando ou
sentir seus braços ao meu redor, me assusta e me apavora.
Me diz, o que farei sem você? Com que
pernas caminharei? Que conselhos seguirei? Que mãos enxugarão minhas
lágrimas agora que as suas não podem mais fazê-lo?
A resposta é óbvia demais para o meu próprio
bem.
Andando pelo cemitério, levo minhas mãos à
minha própria face e enxugo as lágrimas que já escorreram. Tolice. Outras
tomarão esse lugar. Agora sou só eu.
Assustador... Mas, mais do que isso, é
torturante.
Não precisaria me consolar, ou me fazer algum
favor. Era só estar aqui. Só estar viva. Sentirei sua falta como um
pássaro engaiolado anseia por voar. Desejarei sua presença como um tubarão
precisa da água do mar.
Mais do que em vídeos e fotografias, você
estará em minha alma. Marcada a ferro quente e mais profundamente que uma
tatuagem. Em meu peito, em minha memória, na minha cabeça e em meu sentimento.
Porque, mais do que qualquer outra pessoa, eu
te amo, mãe.
cara... meus olhos arderam aqui, sério ;-; que texto lindo e... extremamente triste. ainda mais lido na semana do Dia das Mães TT^TT vou até abraçar a mamãe ali, pera...
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado. Muito obrigada por ler e comentar!
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