Espelho, espelho que sou eu
Disseram que tudo iria dar certo. Disseram
também eu seria capaz de dominar o mundo se soubesse usar minha própria beleza.
Ah, merda, disseram que eu iria governar um dia e me chamaram de princesa.
Então, eu me pergunto, por que demônios bato
a cara na porcaria de uma parede invisível sempre que vou me aproximar de quem
quer que seja que apareça na minha frente? Por que fiquei presa nesse quarto? Sem saída, eu passo os dias a ter vislumbres de diferentes pessoas que analisam
seu próprio rosto procurando por algum defeito.
Mas só uma delas escuta meus gritos desesperados.
Só uma delas me vê presa nesse mundo que é só um reflexo do que há lá fora.
E ela sorri.
Sorri porque tomou o meu lugar como rainha,
sorri porque sua vaidade não permite ter concorrentes, sorri porque está feliz
por ter me trancado num espelho.
E ela adora me ouvir dizer que ela é a mais
bela de todas. É como se ela tivesse esperado a sua vida inteira para ouvir
esse falso elogio.
Nos livros, eu fico deitada num caixão de
vidro esperando um príncipe me salvar. Aqui, eu fico presa, esperando o mundo
acabar.
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