Olga

terça-feira, 24 de março de 2015

Olga


Olga via as pessoas andando pela sua janela e as odiava por isso. Detestava-as com seus passos e sapatos simplesmente por conseguirem fazer o que ela não podia. Elas eram tudo o que ela mesma queria ter sido e, por força do destino, não foi. E nunca mais seria capaz de ser. Era inveja o que corroía seu corpo como se fosse ácido.

Amargurada, Olga se transformou numa mulher de poucos amigos, que colocava a culpa de sua solidão nas pernas inertes, incapazes de lhe sustentar. Passava os dias na cama, praguejando contra o mundo e contra um Deus que lhe impediu de andar.

Até que ele apareceu, para fazer a instalação da TV à cabo, e seu mundo todo girou. As coisas se sucederam rápido demais e, quando se deu conta, queria ser capaz de dar a ele tudo o que tinha. E mais um pouco. Olga não poderia mais andar, mas poderia transformar toda a sua vida para que o homem fosse capaz de amá-la de volta.

E foi o que fez. Se transformou num ser amável e educado, parou de amaldiçoar o mundo inteiro e focou no que lhe importava: conquistá-lo, amá-lo.

Pena que ele era casado.

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