Olga
Olga via as pessoas andando pela sua janela e
as odiava por isso. Detestava-as com seus passos e sapatos simplesmente por
conseguirem fazer o que ela não podia. Elas eram tudo o que ela mesma queria
ter sido e, por força do destino, não foi. E nunca mais seria capaz de ser. Era
inveja o que corroía seu corpo como se fosse ácido.
Amargurada, Olga se transformou numa mulher
de poucos amigos, que colocava a culpa de sua solidão nas pernas inertes, incapazes
de lhe sustentar. Passava os dias na cama, praguejando contra o mundo e contra
um Deus que lhe impediu de andar.
Até que ele apareceu, para fazer a instalação
da TV à cabo, e seu mundo todo girou. As coisas se sucederam rápido demais e,
quando se deu conta, queria ser capaz de dar a ele tudo o que tinha. E mais um
pouco. Olga não poderia mais andar, mas poderia transformar toda a sua vida
para que o homem fosse capaz de amá-la de volta.
E foi o que fez. Se transformou num ser
amável e educado, parou de amaldiçoar o mundo inteiro e focou no que lhe
importava: conquistá-lo, amá-lo.
Pena que ele era casado.
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