Da janela do quinto andar

quarta-feira, 18 de março de 2015

Da janela do quinto andar


Em algum lugar entre o asfalto e as estrelas, em algum mundo entre meus pés e as poças de água, eu te encontrei. Não surgiu de repente. Nem esteve aqui o tempo inteiro. Talvez tenha sido uma mistura das duas coisas, talvez, com o tempo, eu tenha percebido você me olhando da janela do quinto andar.

Sua pele deve ser branca, mas a cor pode ser só o efeito da sua condição de fantasma. Não consigo vê-la direito, mas sei que está ali, olhando para a rua enquanto eu corro pela avenida nem tão movimentada assim.

Seus olhos me acompanham, seus cabelos seguem a direção do vento e as outras pessoas continuam em seu próprio caminho sem ao menos te enxergar. Com o tempo, foi me contando uma história que ninguém seria capaz de entender.  Passou pelos problemas com o peso, pela depressão, falou-me da sua família e da escola, onde ninguém nunca quis te conhecer.

E chegou ao limbo dos suicidas, à parte que ninguém faz questão de saber como aconteceu. Falou sobre a liberdade do voo e sobre a dor excruciante da queda.

Agora, todos os dias, você sorri como se todos os fantasmas sorrissem o tempo inteiro.

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