Eu fujo de todos os textos que escrevi para você
Eu fujo de todos os textos que escrevi para
você. Como o diabo foge da cruz, como quem foge depois de cometer um crime. Eu
fujo de você em cada esquina, todas as vezes que entro dentro de casa, sempre
que me olho no espelho do banheiro. Eu fecho os olhos, viro a cara, tampo os
ouvidos e os buracos de uma vida que foi alvejada pela sua existência infame.
Eu fujo de todos os beijos que te dei, de todas
as carícias, de todos os sussurros ao pé do ouvido. Não preciso deles, pode
ficar com tudo para você. Não quero lembranças, não quero memórias, não quero
você. Não mais. Não depois de descobrir que eu sou inteira mesmo na sua
ausência.
Eu fujo de todas as cartas de amor que você me
escreveu. De todos os buquês de flores, de todos os ursos de pelúcia, de todas
as montanhas russa, de todas as cadeiras de rodas gigantes. Eu fujo da sua
perfumaria favorita e deus me livre de encontrar seus óculos em alguma vitrine.
Eu fujo de você. O tempo inteiro. Vinte e sete
horas por dia, nove dias por semana. É a única coisa que eu posso fazer, já que
é impossível te esquecer.

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