Os frágeis sonhos de Angeline

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Os frágeis sonhos de Angeline



Assim como todas as outras meninas, Angeline sonhava em ser mulher. Já poderia imaginar-se usando os sapatos de salto alto da mãe e carregando as bolsas bonitas como as que a tia usava. Também sorriria como a mulher da novela e usaria roupas tão belas quanto as dela.

Já aos cinco anos de idade, a pequena e doce Angeline criou um mundo repleto de sonhos e anseios que realizaria quando chegasse a hora. Porém, enquanto esperava pelo momento certo, ela se contentaria em sentar-se ao lado da mãe e ficar horas observando-a se maquiar, arrumar os longos cabelos castanhos e borrifar os mais gostosos perfumes que havia no mundo. Era o jeito mais gostoso de aprender.

Mesmo com tão pouca idade, a menina já sabia que era privilegiada por ser quem era e por ter o que tinha. Seu pai, dono de uma enorme rede de supermercados, lhe dava de tudo e cuidava para que sua linda menina e sua bela esposa fossem tão felizes quanto se é permitido ser.

Angeline, por sua vez, fazia o que as crianças sempre fazem e sonhava com um futuro onde seu sorriso seria constante graças à felicidade que habitaria seu coração. Seu marido seria tão belo e atencioso quanto seu pai e seus filhos seriam uma réplica de si mesma. Ela cuidaria da casa e John, o garoto que conquistara seu jovem e inocente coração, trabalharia fora todos os dias. Os finais de semana seriam para a família e eles visitariam os avós de suas próprias crianças.

Como podem perceber, a pequena princesa Angeline criou um gigantesco paraíso onde viveria quando fosse mais velha e tivesse altura o suficiente para lavar as vasilhas.
Mas o destino é cruel e o acaso não perdoa os sonhadores. Se por obra de algo prescrito por um Deus ou por mero acaso, ninguém sabe, mas Angeline não cresceu. Não entrou na igreja vestida de noiva e nem saiu para jantar a noite. As longas conversas nas quais descrevia seu imenso castelo se transformaram em lágrimas que caíam em cima do seu pequeno corpo pálido, repousado dentro do caixão de madeira branca.

Tão rapidamente como vieram, os sonhos se foram.

Bastou um passo em falso próximo da escada para que o sapato, grande demais para seus miúdos pés, tombasse de lado e seu corpo se desequilibrasse e despencasse escada abaixo, rolando umas cinco ou seis vezes antes de cair e quebrar o pescoço no último degrau. O grito da babá foi ouvido por toda a mansão e os soluços da mãe eram intermináveis lamentos de uma alma destroçada.

Mal havia chegado, Angeline já se fora.

Em seu lugar ficou apenas um enorme vazio no peito dos que a amavam e mais de um milhão de sonhos que nunca seriam realizados.

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