De algum futuro distante
Caro leitor do passado,
Assim como todas as conquistas do
mundo, tudo começou com um sonho que parecia mais uma utopia. O ideal da paz
mundial estampado em todo lugar por onde eu passe e o peito cheio de orgulho
com a frase “Nós conseguimos!” estampada nas testas, blusas, bolsas... Vencemos
a guerra contra a discórdia. E nem mesmo
precisamos guerrear.
Mentira. O mundo se transformou num
completo caos onde se misturavam meio ambiente, violência, economia, evolução,
conservadorismo e mais coisas do que você pode imaginar. Mas, no meio da crise,
de alguma forma milagrosa, o trem voltou para a linha certa (ele estava nela,
por acaso?) e não mais corre perigo de descarrilar. Pelo menos é o que os novos
governantes dizem nos comerciais.
Agora, temos sorrisos estampados em
rostos belos, cumprimentos cordiais e almas felizes. Nada de brigas,
discussões, o trânsito é tranquilo, preços são justos e o crime foi,
oficialmente, banido. O mundo perfeito, tão sonhado pelas pessoas do seu tempo,
foi conquistado. É tão anormal viver sem nenhum tipo de tristeza que as pessoas
ainda não se deram conta do dano que isso nos causa. Ou perceberam e não querem
admitir. A arrogância humana sempre foi o pior inimigo de qualquer entidade.
Apesar de todos saberem disso, ninguém se importa. Parece que nos transformamos
em robôs, que só fazem o que mandam e não pensam muito para isso.
A morte? Ela está aqui, à espreita,
espiando as pessoas mais velhas. Morrer de velhice é tão comum que as pessoas
nem mesmo choram quando seus avós, pais, tios partem. Já passaram tempo o
suficiente ao seu lado, eu acho. Acredito que arrumarão um modo de banir de vez
os rituais funerários também. Não ter reação ao perder algo ou alguém... Me
pergunto onde é que foi parar a natureza humana no meio desse bando de robôs de
carne e osso sem lágrimas.
Antes, o mundo estava em equilíbrio.
Com os dois opostos coexistindo, as pessoas sabiam dar o devido valor ao melhor
deles. Conhecer os dois lados da moeda, o amor e o ódio, o feio e o belo, o
azedo e o doce, faz com que tenhamos uma visão mais ampla de tudo o que implica
escolher um ou outro. Mas nós cometemos o pecado de esquecer.
É verdade que a criminalidade não mais
existe, que a violência foi extinta. Muitos não sabem nem qual o significado
dessas palavras, mas... Talvez o custo tenha sido alto demais. E nós não temos
como pagar.
Porque o homem pode tudo, quer o mundo,
mas não assume os próprios erros. E ele sabe disso. E, como o ser humano é um
bicho imbecil e confiante demais para fazer bem ao mundo, ele simplesmente
estabelece metas para cumprir. Como um vendedor de carros. Sem pensar no que
pode acontecer, a única coisa que importa é conseguir. Depois que alcançar a
meta do mês ele simplesmente vai procurar algo ainda mais alto, sonhar ainda
mais além do nada que ele pode controlar.
Sem violência, todos satisfeitos com
todo mundo, sem brigas, sem mortes sem sentido... Esse é o nosso mundo hoje.
Mas falta algo. Pode chamar de “a incrível capacidade de nunca se sentir
satisfeito” ou qualquer outro nome que queiram atribuir ao caráter egoísta e
insatisfeito do ser humano que nos persegue ao longo dos séculos. Com
todos completamente satisfeitos o tempo inteiro, sobra espaço para... Para que?
Ninguém mais procura pela felicidade ou persegue seus sonhos. Os sorrisos não
são mais tão felizes quanto os que estampam imagens antigas, os olhos
retêm toda a indiferença de uma alma acostumada a ter tudo de mão beijada.
Somos uma manada de seres que apenas sobrevivem.
Sim. Conquistamos o universo e acabamos
com os grandes problemas do mundo. Estamos tão satisfeitos que nos transformamos
em seres que apenas existem, como amebas: fazem o que devem fazer e pronto. Não
sentimos. Acabou o amor, a felicidade, se foi todo aquele fervor e vontade de
conseguir algo mais. Rostos apáticos que não dão valor à nada, pois já têm
tudo. Almas inertes fingindo não ver o mal que causaram a si mesmas. Se é que
ainda podem ser chamadas de “almas”...
Caro leitor do passado, seu mundo
caminha na direção do meu. A “evolução” que ele conhecerá é melhor em sonhos,
acredite em mim. Carros que voam, juízes e advogados sem trabalho, economia
estabilizada e mais outros muitos anseios que seu povo tem acompanham a ruína
do coração da espécie. Provocam a morte do que deveria existir dentro de nós.
Nosso cérebro evoluiu, mas a vontade de
nos tornar algo melhor e a felicidade ao consegui-lo morreu em algum lugar, não
muito além do seu tempo.
Por favor, não faça como nós. Não deixe
isso acabar.
Jenna
Stuart
0 comentários :
Postar um comentário