Crônicas da faculdade - Mestres... Excêntricos (?)
Todo e qualquer aluno já
teve um professor estranho. É claro que as “excentricidades” pioram à medida
que você cresce e tem uma percepção mais - ou menos - objetiva. Verdade é que
uma criança de cinco anos não perceberia a exibição porca que um professor faz
do seu Iphone de última geração. Ou perceberia e acharia a coisa mais
legal do mundo... Não sei.
"Vamos falar de
paradigma!" Mais especificamente, o paradigma do iphone. Paradigma
esse que habita as aulas chatas por algumas semanas. Até que a matéria muda e
ele levanta o objeto preto brilhante para que toda a sala veja com clareza.
"Vamos falar de Organização estatal". Sim, meus caros, o iphone é
o Estado soberano da coisa. Quem são os entes a ele subordinados? Galaxy's?
"Hoje o assunto é o Estado social de direito"... Dá-lhe iphone reluzente
na cara. Ele deve achar que aquele brilho todo ofusca os pobres olhares dos
pobres estudantes. Paciência...
Possível encontrar também um
professor que nunca compra as calças no tamanho certo. Seja jeans, preta, azul
ou roxa, ela sempre cai. Mesmo com o cinto. Então lá se vai o baixinho loiro
andar pela sala segurando a maldita da calça. Dois passos, uma puxada. Quando
os passos excedem e sua memória ignora o fato de que a calça simplesmente cai,
um puxão mais profundo faz-se necessário e o ser sem senso de tamanho fica
comicamente atrapalhado entre careta, risadas e sinto desajustado. Talvez, se
vendesse o iphone, teria dinheiro para comprar calças novas... Vai
saber...
"Você deveria ter
aprendido isso no ensino médio! Você não entende matéria do ensino
médio?!" Os gritos fizeram meus olhos se arregalarem e minha língua,
geralmente rápida para respostas secas e irônicas, congelar. Como assim aquela
mulher que mais parecia um sapo enrrugado - ou o mestre dos magos - estava
berrando coisas sobre ensino médio e eu não ter competência para aprender?! A
merda começou quando colocaram a maldita da economia na carga horária. E eu
sabia disso. Minha vontade foi dizer:
- Minha filha, tem um motivo
por eu estar nesse curso. Se eu proseasse com a matemática, seria engenheira e
não advogada. E desculpe se eu sou tão burra que não fui capaz de passar na
federal exatamente pela matemática. Aliás, por que é que você, ser de
inteligência tão superior, não trabalha lá mesmo?
Mas eu, congelada como
estava por causa da gosma e dos sons profanos que saíam da boca daquele ser,
não disse nada e me contentei em falar mal da maldita professora de economia
geral na rádio corredor mesmo. Havia um motivo para eu nunca ter gostado de
sapos. Só fui entender isso aos dezessete anos de idade, mas ok.
"Sua blusa combina com
os seus olhos", que, por sinal, estão assustados. As mãos bem feitas ainda
seguram as minhas enquanto o que eu mais quero na vida é sair daquela sala e
berrar “FÉRIAS!” por uma semana seguida. O que não é possível agora, já que o
professor/maior-protagonista-da-rádio-corredor não me deixa sair. Nunca confie
em homens que fazem as unhas. "São verdes, não?" Por acaso ele é
daltônico? Azuis que não são. E burro também. Não sou do tipo que quer o corpo
dele nu. E nem vestido, por sinal. Com algum sorriso sem graça e um “tenho que
ir”, finalmente, consigo me livrar do esquisito e saio da sala. Deus... É tão difícil
assim ter professores normais? Então olho para baixo e prometo parar de usar
blusas decotadas. Ou verdes. Que seja...
Ela era descabelada e um
amor de pessoa. Atenciosa, cordial, sorridente. E casada, provavelmente. No
mínimo, comprometida. No semestre seguinte, o cabelo se ajeitou, o casamento
provavelmente acabou - ou o marido broxou - e um demônio a mulher virou.
Implicou até com uma mosca que passeava pela sala e com a aluna quando esta,
por sinal, havia parado de falar. O que aconteceu nos dois meses de férias
entre um semestre e outro? Acho que ninguém teve coragem de perguntar...
Eu olho para o lado e o
garoto está se sentido mais desconfortável que peixe fora d'água. Oh God, é
exatamente o que eu imaginei. A sala em círculo, o calor de fevereiro ainda em
horário de verão e piadas do tipo "Esse calor me dá um fogo!" aliadas
a olhares pouco sutis direcionados ao garoto em questão. Minhas sobrancelhas se
erguem e uma risada sufocada consegue escapar por entre meus lábios. O garoto
me olha e, eu sei, sente vontade de me jogar pela janela e se jogar logo em
seguida.
Ah, meu caro, isso é só o
início.
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