O outono que nunca vivemos

sábado, 31 de janeiro de 2015

O outono que nunca vivemos


Guardaríamos alguns enfeites de lembrança. Uma réplica do meu buquê e a flor da sua lapela dentro de um livro, como marcador de página. Ficaríamos embaixo das cobertas nas tardes de domingo e ouviríamos antigas canções nas noites de sábado. No grande dia, nossas lágrimas se misturariam com as folhas secas que cairiam das árvores no nosso mais doce outono.
Teríamos quatro filhos e dois cachorros que correriam pelo quintal da nossa casa. Nos finais de semana, visitaríamos nossos familiares e tiraríamos as noites de sexta para um encontro romântico. Seria assim que reacenderíamos nossa paixão.
Sonhei com a vida perfeita que teríamos. Perdi a conta de quantas vezes desenhei e redesenhei a planta da nossa casa, meu vestido de noiva, o rosto dos nossos filhos. Seriam lindos, teriam meus olhos e seus cabelos cacheados. Seriam nossos tesouros humanos, o fruto do nosso amor, por mais meloso que isso possa parecer.
E envelheceríamos juntos. Veríamos os pés de galinha um do outro surgirem aos poucos, os fios brancos da sua barba e a minha necessidade de cortar e pintar o cabelo. Viveríamos tudo isso e mais um pouco. Se você não fosse um ator de hollywood que nem me conhece.
Bianca Pontes

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