O outono que nunca vivemos
Guardaríamos alguns enfeites de lembrança.
Uma réplica do meu buquê e a flor da sua lapela dentro de um livro, como marcador
de página. Ficaríamos embaixo das cobertas nas tardes de domingo e ouviríamos
antigas canções nas noites de sábado. No grande dia, nossas lágrimas se
misturariam com as folhas secas que cairiam das árvores no nosso mais doce
outono.
Teríamos quatro filhos e dois cachorros que
correriam pelo quintal da nossa casa. Nos finais de semana, visitaríamos nossos
familiares e tiraríamos as noites de sexta para um encontro romântico. Seria
assim que reacenderíamos nossa paixão.
Sonhei com a vida perfeita que teríamos.
Perdi a conta de quantas vezes desenhei e redesenhei a planta da nossa casa,
meu vestido de noiva, o rosto dos nossos filhos. Seriam lindos, teriam meus
olhos e seus cabelos cacheados. Seriam nossos tesouros humanos, o fruto do
nosso amor, por mais meloso que isso possa parecer.
E envelheceríamos juntos. Veríamos os pés de
galinha um do outro surgirem aos poucos, os fios brancos da sua barba e a minha
necessidade de cortar e pintar o cabelo. Viveríamos tudo isso e mais um pouco.
Se você não fosse um ator de hollywood que nem me conhece.
Bianca Pontes
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